Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Ele tem apenas 11 anos, mas a disposição com que parte para cima dos adversários enlouquece a legião de fãs que conquistou na Favela do Andaraí, onde vive. Com nome de anjo, Ângelo Gabriel Macedo de Souza é a aposta do multicampeão Will Ribeiro para levar adiante o nome da comunidade, onde atua na formação de jovens talentos da luta livre. Cria do projeto Luta pela Paz, hoje na UPP local, trunfo na batalha pela proximidade com os moradores, Ângelo treina todos os dias para defender os três títulos que já conquistou em sua categoria.
“Ele parte para cima. O moleque tem futuro”, diz Will, que há seis anos teve sua carreira interrompida, vítima da irresponsabilidade alheia no trânsito: foi atropelado por um carro ao parar com sua moto em um sinal, na saída do Túnel Noel Rosa. “Ele não tem medo.”

Não tem mesmo. Quinta-feira, quando a equipe do DIA foi à sede da UPP do Andaraí, Ângelo lutou com um sparring três anos mais velho. E pôs o adversário ‘pra dormir’ com um chute certeiro na costela direita, após sequência impecável de socos e pontapés.

Ângelo acerta uma direita no rosto do sparring%2C três anos mais velho que ele%3A garoto prodígio do Muay Thai pode pegar a faixa preta com 17 anosJoão Laet / Agência O Dia


DESAFIO NA ESCOLA

“Nunca briguei na rua, moço. Depois que a gente se ‘federa’, vira uma espécie de arma branca”, diz o garoto, sério e compenetrado, estudante do 6º ano do Colégio Pedro II, do Humaitá. Dono de chutes certeiros com as duas pernas, conquistou o UPP Fight, campeonato de MMA com lutadores de áreas pacificadas, há três meses. Lutando ‘em casa’, aproveitou o clima e derrotou o adversário, na final, em apenas 12 segundos. “Eu gosto de ser chamado de ‘Pitbull do Andaraí’. Geral me chama assim quando venho subindo o morro”, diz o garoto, filho único, nascido e criado na comunidade. Will acrescenta que, se Ângelo mantiver o pique e o foco, a faixa preta em Muay Thai chegará no máximo aos 17 anos. “Eu só peguei com 23”, diz.

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A maior batalha do lutador, agora, é para passar de ano. Por conta das inúmeras greves no colégio, perdeu a sequência de aulas e aguarda ansiosamente as provas finais, que vão determinar se ele passou ou não. “Acho que só ano que vem”, encerra.
Projeto ajuda na convivência entre moradores e policiais
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A luta se transformou em febre nas favelas com UPPs, invadindo Providência, Mineira e Fallet, entre outras. No Andaraí não é diferente. Lá, na sede do Cemasi (Centro Municipal de Assistência Social Integrada), 50 jovens e adolescentes sonham em viver do esporte.
Segundo o comandante da unidade, capitão Giancarlo Sant’Ana Sanches, a capoeira é a próxima. “Nossa sede, de concreto, é um sonho. Todas as UPPs deveriam ser assim”, diz o oficial, satisfeito com o trabalho que pode desenvolver. “Trouxemos as crianças para dentro da UPP. Hoje, a gente passa na rua e o morador dá bom-dia. Isso não tem preço.”
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A briga pelos corações e mentes passa por 300 crianças inscritas em programas sociais. Will, que trabalhava com foco na recuperação de usuários de drogas, confessa que temeu perder alunos ao se mudar para a UPP. “Mas aconteceu o contrário”, conclui.
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