Por adriano.araujo

Rio - O que pode gerar a união entre uma organização que incentiva jovens de áreas carentes a usar a tecnologia e uma moradora de favela cheia de ideias? No caso de Luana Gomes, 17 anos, o ‘casamento’ resultou em um aparelhinho capaz de captar a água da chuva para lavar louça, piso e dar descarga no banheiro de sua casa na Rocinha — atormentada pelas torneiras secas. Assim nasceu o Gota D’água, invento simples que une uma espécie de guarda-chuva de lona invertido, um galão vazio, grampos e cinta para prender as amarras.

“A gente sempre sofreu com a falta de água aqui na favela” conta Luana. “Quando entrei no curso da Tunnel Lab, em janeiro, eles nos pediram inventos para nossa realidade. Foi simples decidir o que iria criar.”

Luana posa%2C na entrada da Rocinha%2C com a invenção que lhe rendeu um semestre de estudo no curso EliteAlexandre Vieira / Agência O Dia

A Tunnel Lab citada pela filha mais velha da família Gomes está acostumada a encontrar talentos como ela, que nascem, crescem e invariavelmente desistem de seus dons por falta de incentivo. “Eu já esperava isso dela”, conta a mãe Laura Barbosa Gomes, 48, orgulhosa com a capacidade inventiva da filha. Também, pudera. Além da alegria por ver a menina ‘vingando’, ainda economiza em média R$ 160 por mês graças ao invento. “Uso até para para lavar roupa. A água sai limpa.”

Mais simples do que sua criação é o preço: R$ 39,90. “Quando faltava água, a gente era obrigada a comprar galões de água mineral para lavar as coisas da casa. Com o Gota D’água isto acabou”, emenda a jovem, que está no 3º ano do Ensino Médio e, por sua invenção, ganhou um semestre para estudar no curso do Sistema Elite de Ensino, controlado pelo grupo Eleva. “Vou começar em agosto. Quero fazer Engenharia de Produção.”

O próximo passo da jovem é divulgar seu invento no bairro onde vive na favela, conhecido como Cidade Nova. Por enquanto Luana quer curtir um pouco a sensação de férias — ela cursa do 3º ano do Ensino Médio, na Escola Andre Maurois, na Gávea. “Luana é muito inteligente, esforçada e sempre correu atrás do que queria, com muito dedicação e esforço.”

Luana sabe disso. Em janeiro, cansou de ouvir as amigas a chamando para ir ao baile, curtir baladas, se divertir enquanto as aulas não começavam. Na dela, trocou a agitação pelo curso. Hoje, começa a colher os frutos. “Mas a Luana pode aperfeiçoar a invenção, colocando um filtro.” Palavra de mãe...

Ideia é desmistificar a tecnologia

?Criado há um ano pela empreendedora social Julia Moura, 27 anos, após experiência no Quênia, a Tunnel Lab não se resume ao Gota D’água. Na Rocinha, está investindo também no Favela Game, jogo para smartphone que recria a realidade da comunidade.

“Somos uma instituição educacional sem fins lucrativos, focados no empreendedorismo para pessoas de comunidades que jamais teriam acesso a este conhecimento”, diz Julia, que depois de um giro pela África e Estados Unidos, voltou ao Rio decidida a por mãos à obra e ajudar no desenvolvimento das favelas.

“As pessoas pensam que empreendedorismo é algo para um milionário. Estamos desmistificando isso, traduzindo a linguagem da tecnologia para as pessoas mais carentes.” Entre outras parcerias, a Tunnel Lab se aliou à Universidade Estácio de Sá e ao grupo Eleva, que administra o Sistema Elite de Ensino.
Edson Moscoso, diretor do Elite, explica a razão das bolsas. “Os primeiros alunos foram tão bem que tivemos que estender o benefício.”

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