Por adriano.araujo

Rio - O Dia dos Pais de Carlos Eduardo Prazeres, de 42 anos, será duplamente especial. Além de, pela primeira vez, coincidir com a data do aniversário de seu pai, o falecido maestro Armando Prazeres, sua orquestra Maré do Amanhã se apresenta no Espaço Tom Jobim, dentro do Jardim Botânico, consolidando um trabalho que faz com jovens da favela. Hoje, em seu núcleo, são 200 crianças e adolescentes vislumbrando um futuro melhor com violinos, violões, violoncelos e oboés.

“E é aqui na Maré onde está o assassino do meu pai”, relembra Carlos Eduardo, sem demonstrar rancor. A morte do maestro Prazeres, morto após um sequestro-relâmpago em Laranjeiras, em 1999, marcou sua vida de tal forma que enquanto ele não conseguiu criar a orquestra, em 2010, não sossegou. Sua matemática é simples: em vez de ficar se lamentando, reclamando, criticando, decidiu arregaçar as mangas e ir à luta.

Carlos Eduardo à frente dos meninos de sua orquestra%2C na Baixa do Sapateiro%2C onde 80 deles ensaiam dentro de um contêiner num CiepUanderson Fernandes / Agência O Dia

“É muito prazeroso este trabalho. Hoje estamos até dando bolsa para os meninos. Pena que muitos pais não conseguiram esperar. Eu entendo a necessidade deles. Eles precisam trabalhar.” Prazeres espalhou uma rede de olheiros pelas escolas do complexo e garimpou 80 jovens para receber a bolsa, patrocinados pela estatal chinesa de energia State Grid Brasil. Destes, 30 tocarão hoje, pela primeira vez, num local mais clássico. Afinal, a missão da orquestra, como o próprio Carlos diz, é levar a música clássica a espaços populares.

“Era o sonho do meu pai. Não quero que meus alunos sejam caixas de mercado que toquem música clássica. Eles podem mais.”

?Preconceito e disciplina no caminho

?Vinícius dos Santos Pereira tem 17 anos. No sangue, traz a paixão pela guitarra, que aprendeu com o pai, também morador da Maré. Hoje, quando entrar no Tom Jobim com seu contrabaixo acústico, começará a transformar seu sonho em realidade.

“Música clássica e favela são coisas distintas. O instrumento é mais refinado, precisa de disciplina. E aqui falta isso”, reconhece.

Não foram poucos os que relataram sofrer preconceitos na favela por gostar de música clássica. Juliana Oliveira, por exemplo, cansou das piadinhas enquanto seguia para os ensaios. “O pessoal não entende”, diz.

A excitação pelo dia de hoje é grande. Ruan Pablo, 16, da Vila dos Pinheiros, já sabe quem vai homenagear ao fim do concerto. “O Prazeres. Ele é como um pai para mim. Porque pai mesmo eu não tenho.”

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