Rio - Para o professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ Paulo Cezar Ribeiro os problemas no trânsito na cidade com o fechamento do Elevado Perimetral, nesta segunda-feira, estiveram dentro do limite do aceitável, mas lembrou que hoje foi um dia atípico não apenas por vazamentos ou problemas mecânicos.
“Com tanta propaganda e alarde, as pessoas utilizaram mais outros meios de transporte, como barcas e trens. Tudo isso ainda vai se ajustar e aí sim poderemos medir os impactos. O fato é que estudos apontam para acréscimos de até 30% no tempo para chegar ao Centro. E este preço é pago pelo usuário. Por isso, a Perimetral só deveria ser interditada após a conclusão da via expressa”, avaliou.
A prefeitura tem afirmado, no entanto, que as obras da nova Via Expressa, que só deve ser inaugurada em 2016, só podem começar após a derrubada do elevado. Cariocas e fluminenses que precisaram ir ao Centro estavam divididos em relação à interdição do Elevado.
“É um absurdo fechar a via e pedir para usar transporte público se os trens são um lixo e as barcas operam mal. Há 30 anos ouço que vão criar a barca São Gonçalo-Praça 15 e fica sempre na promessa”, disse Hudson Oliveira, morador de Itaboraí que desceu um dos acesos da Ponte a pé por causa do engarrafamento. Moradora de Campo Grande, Isabele Almeida deu um voto de confiança. “O primeiro dia é sempre complicado”, disse a estudante.
Teste de contratempos
O primeiro dia sem o Elevado da Perimetral foi recheado de contratempos, como estouro de tubulação na Região Portuária, protesto que fechou a Francisco Bicalho, durante a manhã, e um incêndio em um ônibus na Avenida Brasil, no fim da tarde. Entretanto, o caos, com toda a cidade parada como muitos esperavam, não aconteceu. Parte da população colaborou muitos deixaram o carro em casa e optaram pelos transportes públicos.
No início da manhã, o principal transtorno se deu na Avenida Rodrigues Alves, que será fechada dia 14 para a demilição da Perimetral. Um vazamento de água em uma tubulação da Cedae e um veículo enguiçado deixaram o trânsito completamente parado na avenida. A nova Via Binário do Porto, assim, foi a melhor opção para quem pretendia chegar ao Centro até o fim da manhã. Por volta das 11h20, porém, o asfalto da nova pista não suportou o peso de um pequeno caminhão e cedeu, retendo o veículo e o trânsito na via.
Outro fator que ajudou a tumultuar o tráfego na região foi a manifestação de cerca de 300 operários do consórcio que realiza as obras na zona portuária, que reivindicavam melhores salários e condições de trabalho. Eles chegaram a fechar a Avenida Francisco Bicalho no sentido Rodoviária Novo Rio, mas o trânsito no local foi liberado antes das 9h.
Os problemas na zona portuária, no entanto, não refletiram no restante da cidade. “Não tivemos uma situação diferente do que acontece na maioria das segundas-feiras”, comemorou o secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório, acrescentando que a “situação ficou mais crítica” por causa do vazamento da Cedae e da manifestação dos operários.
Na volta para casa, o trânsito foi mais tranquilo, apesar de algumas retenções.
“Agora está tranquilo. De manhã, levei duas horas e meia da Baixada até a rodoviária. Deviam aumentar o número de ônibus”, disse a doméstica Lúcia Machado, 50 anos, ao esperar o coletivo para casa, na Rodrigues Alves, por volta das 18h. Na Avenida Brasil, no fim da tarde, um ônibus pegou fogo devido a uma pane elétrica na pista lateral, sentido Zona Oeste, e gerou um congestionamento de quatro quilômetros, da Penha a Bonsucesso.
Uso de transportes públicos aumentou
Com tantos pedidos para que as pessoas não fossem de carro para a Região Portuária, o número de usuários do transporte público aumentou neste primeiro dia sem Perimetral. As reclamações, no entanto, foram muitas.
A concessionária CCR Barcas registrou, até 19h, um aumento de 29% do movimento médio da Linha Praça Arariboia (Niterói) - Praça 15 (Centro do Rio), com 88 mil passageiros. Na linha Charitas-Praça 15, o aumento foi de 30% e, na Cocotá (Ilha do Governador) - Praça 15, o acréscimo foi de 33%.
"A gente tenta ajudar, mas não tentam ajudar a gente. Enfrentei uma fila gigantesca em Niterói e as barcas não suportaram a demanda. Não adianta cobrir um santo e despir outro. O transporte público continua precário em todo o Grande Rio", reclamou Welinton Souza, morador de Pendotiba, que chegava ao Rio pela manhã.
Na Supervia, a operadora dos trens, até 16h, foram registrados mais de 23 mil embarques acima da média, que é de 570 mil. Mesmo com o reforço de nove trens, distribuídos, nos dois sentidos, durante o horário de pico, a superlotação, no entanto, já faz parte da rotina dos passageiros.
“Quando se pensa em transporte público no Rio, se pensa em coisa ruim. E nesse bolo todo, o pior de todos é o trem. Aqui o caos é diário, nem dá mais para medir”, reclamou Angelica Vieira, moradora de Marechal Hermes e que trabalha numa lanchonete no Centro.
Já o MetrôRio estendeu a operação de horário de pico de 5h30 às 10h30 e 15h às 20h para aumentar a oferta em 10 mil lugares diários por linha e por sentido. O balanço da operação só será divulgado nesta terça-feira. A Rio Ônibus informou que estuda a demanda do primeiro dia para verificar se precisa aumentar mais a frota, que desde a semana passada, já opera com mais 10% de veículos por causa das obras da Perimetral.