Rio - Antes problema de bairros periféricos, a falta crônica de água já atinge o Centro de cidades da Baixada e preocupa moradores. Nova Iguaçu e Duque de Caxias, as duas maiores cidades da região e com crescimento imobiliário a pleno vapor, são exemplos de que a falta de abastecimento é para todas as classes.
Entregue em outubro de 2011, o condomínio Acqua Residencial, na esquina da Avenida Abílio Augusto Távora com a Rua Juiz Alberto Nader, no Centro de Nova Iguaçu, é exemplo de que não são somente os menos favorecidos que sofrem com a falta d’água na cidade. Com quatro blocos e 452 apartamentos, o residencial tem 80% das unidades ocupadas.
Ele é o endereço de mais de 1.400 moradores, que dependem de carros-pipas, comprados quase diariamente, para ter água em suas torneiras. “Houve dia em que compramos 15. Somente nos últimos 12 meses o condomínio gastou R$ 220 mil para abastecer os apartamentos”, revela o síndico, Eduardo Faria.
A média nesse período é de R$ 18,3 mil por mês. Mas o período de junho gerou um custo de R$ 29 mil na compra de carros-pipas. Entretanto, segundo Faria, não foi o pior mês. “Em dezembro, compramos 100 carros, cada um com 20 mil litros, por R$ 40 mil. Foi maior gasto que tivemos até hoje”, afirma o síndico.
A compra de água gera taxa extra aos moradores, e a média mensal é de R$ 80 por apartamento. Mas há quem pague até R$ 300 por mês. A falta d’água na região onde está o Acqua Residencial vem de muito antes da construção do condomínio.
O casal de dentistas Ernesto Moreira Bittencourt Junior e Lizandra Gaudio Bittencourt mora há nove anos na Rua Juiz Alberto Nader, a 200 metros do Acqua. Eles contam que o abastecimento de água já era irregular quando mudaram, mas piorou. “Sempre foi ruim e está cada vez pior. E a tendência é piorar”, diz Bittencourt Junior.
Sem água em casa e com um filho de 2 anos, a família é obrigada a passar mais tempo na casa da mãe de Lizandra, também em Nova Iguaçu, do que na própria residência. “Passamos mais da metade do ano na casa da minha sogra. Em junho, ficamos fora de casa do dia 6 até quase o fim do mês”, diz o dentista.
Jorge Briard, diretor de Operações da Cedae, admite que há falhas no abastecimento, mas que o problema será solucionado com a inauguração do reservatório Juscelino Kubitschek, no bairro Caonze. As obras devem ser concluídas em março de 2014. Até lá, ele prometeu melhorar a distribuição no bairro.
Prédios novos preocupam vizinhos
No bairro 25 de Agosto, em Duque de Caxias, a Rua Major Correia de Melo será o endereço do Residencial Província de Marche. Ele terá 18 andares e 72 apartamentos. A construção preocupa moradores antigos. Eles temem que a falta d’água piore. Na região, a maioria recorre a poços artesianos. “Quem não tem poço vai ter problemas depois que o prédio ficar pronto”, alerta Antônio de Souza, 54 anos.
Na Vila São Sebastião, moradores afirmam que o abastecimento foi interrompido após a construção de um grande supermercado, de um shopping center e do Hospital Estadual Moacyr do Carmo.
comerciante Nilo Rosa Peixoto, morador da Rua Vereador Oscar Dias de Oliveira, diz que antes caía água três vezes por semana. “Hoje, não cai mais em nenhum dia. Dependemos de poço”, lamenta. Gilson Fernandes, da Rua Paulo de Frontin, é outro que não recebe água. Por isso, se nega a pagar a conta d’água. “Já tenho dívida de R$ 4 mil”.