Por juliana.stefanelli

Rio - Os passos acompanham a orientação da professora. Embora imprecisos, foram o bastante para encantar especialistas da mais importante companhia de balé do mundo, o Bolshoi. Aos 9 anos, Ygor Sales embarca em outubro para Joinville (SC), para disputar, com 250 crianças, uma vaga na escola russa, que tem filial na cidade. O menino integra o Projeto Social Dança Viva, da Academia Tereza Petsold, em Nova Iguaçu, onde recebe aulas de balé há um ano.

“Pensei em ser jogador de futebol, mas, se tento acertar a bola, chuto o chão. Quero mesmo é ser bailarino”, diz Ygor com a tranquilidade de quem já encontrou seu caminho. Ele mora com os pais e dois irmãos na Vila Pauline, em Belford Roxo.

Professora de balé do projeto social que dá aulas gratuitas a crianças carentes na Baixada, Tereza Petsold aposta no talento do pequeno Ygor ODia

Também tem aulas na ONG Manoel Miranda, fundada por sua prima Tassiana Moreira, 25 anos. “Quando eu dançava, pedia para que ele me acompanhasse e percebi que tinha talento”, relembra a jovem. Para Tereza Petsold, responsável pelo Festival de Dança de Nova Iguaçu, Ygor é diferente. “Ele tem um ‘molejo’ no quadril, perfeito para o balé clássico”, revela.

A diretora do Bolshoi em Joinville, Mariléia Cani, há 13 anos à frente da escola, acredita nas chances do garoto: “Durante as audições, provou ser forte concorrente”. Os aprovados ficarão estudando por oito anos. Uma parceria com a prefeitura de Joinville garante o ensino regular em escola municipal. Enquanto isso, a família se prepara para a despedida.

“É o futuro dele. Não vou interromper por causa da saudade”, diz a mãe, Priscila Lima, de 26 anos. Para o pai, o encanador industrial Luiz Sales, 31, pensar na distância já é difícil. “A saudade vai apertar, mas vale o sacrifício”, diz, conformado. Ygor, que nunca andou de avião, comenta: “Não sabia que voava tão alto”, sem perceber que pode estar falando de seu próprio destino.

Um celeiro de novos dançarinos

O Projeto Dança Viva profissionaliza jovens desde 2002. Hoje, atende cerca de 100 alunos, de 6 a 18 anos, com bolsa integral. “O objetivo é ir além da atividade cultural. É dar uma profissão”, diz Tereza Petsold. Ela explica que os alunos são encaminhados ao Sindicato dos Profissionais de Dança para o registro. “O mercado é bom”, garante Tereza.

Quem confirma são as irmãs Camila, 21, e Tamara Campos, 20. “Foi uma porta aberta para quem não poderia custear as aulas”, avalia Camila, que estuda Letras. Tamara faz coro: “Não abro mão da dança. Hoje, temos mais uma opção de carreira".



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