Por ramon.tadeu

Rio - Quando liberaram o trânsito no Arco Metropolitano (RJ-109) há duas semanas, a presidenta Dilma Rousseff e o governador Luiz Fernando Pezão exaltaram o que representa a obra para a economia do estado. Falaram dos investimentos (algo entorno de R$ 1,8 bilhão a mais no PIB) e a perspectiva de empregos (10,6 mil). Nada disseram, entretanto, sobre a rodovia não estar pronta plenamente nem o que ganhariam as comunidades vizinhas.

RJ 093%2C que corta a via em Japeri%2C foi destruída com a passagem de caminhõesEstefan Radovicz / Agência O Dia

O ‘Baixada’ percorreu os 71,2 quilômetros do Arco na quarta-feira e, embora a obra estivesse inicialmente prevista para ser entregue quatro anos atrás, constatou a ausência de alças de acesso, de placas informando saídas, trecho em mão dupla, rodovias próximas — uma delas a RJ 093, em Japeri — destruídas devido a máquinas pesadas, casas à beira da pista e bairros do entorno isolados.

“Só inauguraram agora, porque depois estariam impedidos. É uma irresponsabilidade com a vida das pessoas que trafegam ou traferão ali”, afirma o economista José Claudio Souza Alvez, professor de Economia Social da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), chamando a atenção para o impedimento da legislação eleitoral de a presidenta e o governador, que concorrem à reeleição, comparecerem à abertura oficial da rodovia.

Atualmente%2C via vai de Itaguaí e Caxias.Beleza natural chama a atençãoEstefan Radovicz / Agência O Dia

A vendedora Sandra Aparecida de Souza, 34 anos, é prova da dificuldade quem se arrisca a sair num dos cinco municípios cortados pelo Arco. “Passei aqui três vezes”, diz ela. “Me perdi em duas. Apenas na primeira não tive dificuldade, pois, para conhecer, atravessei de Itaguaí a Caxias. Nas outras duas, tive que acessar uma das alças e aí começaram os meus problemas”, lembra a vendedora, que saiu de Seropédia para Nova Iguaçu.

Parada nua via de barro vermelho em Japeri, ela perguntava se estava na saída correta, já que não havia placas indicando a saída.

Para o médico Lucas de Macedo Santos, 38 anos, “o maior dos absurdos foi ver uma RJ, a 093, completamente destruída por uma obra do governo do estado”. “Você simplesmente não consegue sair em Adrianópolis, Nova Iguaçu, porque as abas da via não estão prontas”, reclamou.

Algumas comunidades ficaram isoladas. “Tenho que percorrer quase 10 quilômetros para chegar a Japeri e acessar a pista”, reclama a doméstica Aparecida dos Santos, 58.

A Secretaria Estadual de Obras (Seobras), responsável pelo Arco Metropolitano, afirma que todas as alças serão concluídas em no máximo dentro de 15 dias.

Trecho ainda está em obras em Nova Iguaçu. Lá%2C a pista é em mão dupla Estefan Radovicz / Agência O Dia

Alerta para plano diretor dos municípios

Especialista em planejamento urbano, Mauro Osório, professor da UFRJ, afirma que o governo estadual tem de coordenar o desenvolvimento do plano diretor dos municípios cortados pela rodovia. O documento ordena a ocupação do solo. “Os títulos de propriedade são problemas na Baixada e nenhum empresário se instala assim. É onde entra o governo estadual, auxiliando os municipais”, diz.

Quando estiver integralmente pronto em 2016, o Arco Metropolitano terá 96,7 quilômetros, ligando Itaguaí a Itaboraí, onde está sendo instalado um complexo petroquímico. Atualmente,porém, só vai até Duque de Caxias. A espectativa da Firjan é de que a via aumente o PIB ( total de riqueza produzida no Rio) em R$ 1,8 bilhão — 0,4% do valor atual. A obra custou R$ 1,9 bilhão. Além disso, deve gerar 10.600 empregos, com as 40 empresas que se interessaram pela região.

Em alguns pedaços é preciso andar pela contramão. Saída não foi concluídaEstefan Radovicz / Agência O Dia

'Fotografe porque daqui a 10 anos, tudo estará diferente'

O empresário de Volta Redonda Fernando Soares, 39, comemorou o Arco Metropolitano. “Faz tempo que precisávamos da rodovia aqui”, disse ele. Com razão. O projeto é de 1.968 e ficou na gaveta até ser aprovado durante o governo Lula e incluído nas obras do PAC. “Ganhamos também com a vista, que é linda e pouco conhecida”, acrescentou Fernando.

Justamente a beleza é uma das preocupações do pesquisador José Claudio, da UFRRJ. “Fotografe e publique, porque daqui a cinco, 10 anos, tudo estará diferente. Você não mais verá verde e alguns morros desaparecerão”, alertou, acrescentando: “Fala-se em criar 10 mil empregos, mas eles irão para os moradores do Rio. Os da Baixada ficarão de fora porque tem em média cinco anos de estudo. É pouco, infelizmente.”

Para ele, ainda há os problemas ambientais. “A via é linda, mas as margens estarão todas ocupadas, pois não houve preocupação com o ambiente. Há dois lixões em volta — em Nova Iguaçu e em Seropédica — e os riscos de contaminação são seriíssimos”, denuncia.

A Secretaria de Desenvolvimento informa que existe um plano diretor para a região, feito com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Pondera, no entanto, que não inclui os desdobramentos nos municípios. A secretaria acrescenta ainda que todas as áreas de proteção próximas serão preservadas.

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