Por felipe.carvalho

Geralmente cheio por conta das festas religiosas aos domingos, o barracão de Conceição d’Lissá, de 53 anos, não receberá ninguém hoje. Um incêndio criminoso interrompeu há dois meses as atividades do centro de candomblé, que chega a ser frequentado por cerca de 50 pessoas nas festividades. A ocorrência, registrada na 62º DP (Imbariê), em Duque de Caxias, foi a quinta desde 2006.

A violência não abala, no entanto, a fé de Mãe Conceição. Hoje, está previsto um ato contra a intolerância religiosa na Praça de Imbariê, a partir das 10h. Mãe Conceição já teve dois carros depredados e diz ter sido vítima de outros três ataques que não foram registrados.

Ela conta que começou um trabalho paliativo para retomar as atividades no dia 28 de setembro, mas, infelizmente, não tem como deixar tudo como era antes. “Desta vez, contabilizei um prejuízo de R$ 50 mil”, afirma ela.

Mãe Conceição disse que, por falta de telhas, o local está com infiltração Carlo Wrede / Agência O Dia

Sem telhado

No último incêndio, ela perdeu o telhado do terraço,duas geladeiras e ventiladores, além de alimentos e bebidas. O fogo destruiu também as três máquinas de costura que eram usadas para confeccionar as roupas religiosas.

Depósito de objetos

Por causa da falta de telhas, formaram-se infiltrações que prejudicam o funcionamento da cozinha, no andar de baixo. O jardim do barracão virou um depósito de objetos queimados.

Mãe Conceição diz não entender o motivo dos ataques ao centro. “Respeito todas as religiões e tenho amigos evangélicos, católicos, da umbanda”, conta a mãe de santo, que diz ainda não ter inimigos na região.

Grupos religiosos buscam apoio

Dezenas de lideranças religiosas da Baixada foram recebidas na Câmara Municipal de Duque de Caxias na primeira semana do mês. Ao presidente da Casa, vereador Eduardo Moreira, pediram a criação do Fórum de Combate à Intolerância Religiosa de Duque de Caxias.
“Atos de intolerância contra qualquer religião são sempre prejudiciais. A pessoa tem o direito de escolher a forma como quer viver e em que quer acreditar”, disse a missionária evangélica Andréa Vieira.

Os manifestantes têm se reunido a cada 15 dias e explicam que o fórum, que seria permanente, teria a capacidade de diminuir as estatísticas de intolerância na cidade. “No caso de Conceição, destruíram o patrimônio dela. No meu, destruíram parte da minha infância porque estudei em colégio católico e sofria bullying por parte de meus colegas”, diz Andréa.

Para o presidente da Comissão de Combate às Discriminações da Alerj, Carlos Minc, é urgente a necessidade de o Estado do Rio ter uma delegacia especializada em crimes de intolerância religiosa, a exemplo do que já existe em São Paulo.

“Apresentei a ideia ao governador Pezão e ao secretário de Segurança Beltrame, e eles demonstraram interesse. Espero que até o fim do ano tenhamos alguma evolução”, diz.
De acordo com Minc, casos de intolerância têm ocorrido com frequência na Baixada. “A linha de investigação aponta que sejam traficantes que simpatizam com igrejas evangélicas e tenham visão radical. É uma possibilidade.

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