Os povos que habitaram o litoral fluminense desde os primórdios foram motivo de estudos de muitos arqueólogos. Sheila Mendonça e Alfredo Mendonça, em pesquisa sobre pescadores e coletores nos informam que o estudo dos povos sambaquianos na Baixada ainda é bastante pobre, já que a pesquisa sobre os sítios arqueológicos estudados na região são bastante fragmentada.
Com foco na cultura desses povos, chega-se à conclusão que estavam por aqui há cerca de oito mil anos, quando o clima tornava-se gradativamente mais quente, no chamado óptico climático, atingindo sua temperatura ideal por volta de seis mil anos. A sobrevivência desses povos caçadores-coletores estava intimamente ligada às planícies litorâneas ricas em manguezais e restingas, formadas a partir da retração das águas marinhas entre 10 e seis mil anos.
Dos sítios encontrados, vamos destacar os que estão intimamente ligados ao território baixadense. Merecem destaque os sambaqui do Rio das Pedrinhas e o de Sernambetiba, em Magé. Com pequenas variações, pesquisadores agruparam todos os sambaquis fluminenses em três faixas de antiguidade: o primeiro, cujas bases assentam sobre sedimentos atualmente em nível inferior ao do mar, com idades entre 10 mil e seis mil anos, que corresponderiam a uma época anterior ao ótimo climático; o segundo, que repousa sobre sedimentos que permaneceram fora do alcance do mar por ocasião do ótimo climático, com idades entre seis mil e três mil anos; e o terceiro, que assenta sobre sedimentos recentes, cordões de restinga ou praias atuais, com três mil a 500 anos.

Sem preocupações de ordem cronológica, mas baseando-se, principalmente, no conteúdo cultural dos estratos, outros autores também perceberam diferenças significativas entre os sambaquis, ou entre estratos de um mesmo. O sambaqui do Rio das Pedrinhas, situado no interior da Baía de Guanabara, no litoral de Magé, pesquisado por Mendonça de Souza, se assenta sobre pequena duna de uma praia fóssil, atualmente a cinco quilômetros do mar.
No sambaqui do Saracuruna, estudado por Mello e Mendonça, foi constatada a presença de estratos culturais distintos. Com base nas escavações arqueológicas desenvolvidas nesses sítios e nos estudos comparativos com outros oito sambaquis da região, foram propostas três fases pré-cerâmicas: fase Magé (a mais antiga); fase Guapi; e fase Sernambi mais recente.
No próximo capítulo, abordarei um pouco das formas de sobrevivência desses grupos e suas interações com o ambiente, além da permanência regional daqueles que sobreviveram ao momento da chegada dos europeus.