Por marcelle.silva

A decisão de abrir as portas de casa para oferecer de graça aulas de artesanato e outras atividades culturais mudou a vida de centenas de moradores da Chatuba, em Mesquita. Há 12 anos, a assistente social Bianca Carvalho, de 28 anos, montou a ONG Mundo Novo, que atende principalmente a carentes.

ONG atende crianças%2C adolescentes e adultos com várias atividades. Tudo de graçaEstefan Radovicz / Agência O Dia

De início, o objetivo era atender crianças a partir dos 6 anos. Depois, o projeto passou à alfabetizá-las, porque muitas delas estavam fora da escola. Em março de 2003, a ONG começou a funcionar em uma casa alugada e, em julho do ano seguinte, a instituição foi legalizada.

Quatro anos depois, a entidade recebeu a doação de um terreno para a construção de sua sede própria, que hoje atende cerca de 600 pessoas e oferece creche, pré-escola, aulas de reforço, alfabetização de adultos, oficinas de teatro, dança e cursos profissionalizantes. “Isso aqui era um terreno abandonado, onde as pessoas costumavam jogar muito lixo. Nós rejuntamos, colocamos piso, pintamos. Tudo feito por nossos alunos e voluntários”, recorda Bianca.

É lá que a dona de casa Ediene Pontes, de 37 anos, ganha uma renda extra com costura, e seu filho, Maicon Braga, de 4, dá os primeiros passos para começar a ler e escrever. E tudo de graça.
Só que hoje a organização passa por um momento difícil. Um dos principais projetos, o Arte com Visão, que oferece aulas de dança, teatro, artesanato, apoio escolar, oficina de leitura e beneficia cerca de 300 crianças e adolescente de 4 a 18 anos, está sem patrocínio desde setembro.

Por falta de recursos para pagar professores e monitores, a instituição corre o risco de não abrir novas vagas para o ano que vem. “Este ano, foi complicado por conta dos altos custos administrativos. Sem patrocínio, fica ainda mais difícil”, afirma Bianca.

Maicon Braga%2C de 4%2CFilho Ediene Pontes%2C de 37 anos%2C dá os primeiros passos para começar a ler e escreverEstefan Radovicz / Agência O Dia

Segundo a assistente social, o Conselho Tutelar e os Centros de Referência de Assistência Social de Mesquita encaminham as crianças para a instituição, “mas ajudar que é bom nada”.

Gabrielle Silva, de 12 anos, é uma das alunas do projeto. Ela estuda pela manhã e a tarde faz aulas de dança, teatro e de apoio escolar. “Estou me especializando em jazz, balé e hip-hop. Desde que comecei a dançar, meu desempenho na escola melhorou. Não pode acabar”, diz.

A Prefeitura de Mesquita informou que tem uma parceria institucional com a Ong Mundo Novo, mas, para poder injetar recursos municipais no projeto Arte com Visão, a entidade precisa apresentar um estudo técnico e um plano de trabalho para serem submetidos à aprovação do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente.

Teatro aberto à comunidade

Obstáculos funcionam como combustível para Bianca <CW-5>Carvalho</CW>, que nunca mostra desânimo. Ao contrário, a educação infantil, a alfabetização de jovens, adultos e pessoas com deficiência, as oficinas de empregabilidade e os cursos profissionalizantes, além de outras atividades culturais, continuam.

Há um ano, a organização inaugurou um teatro, que fica aberto à comunidade e funciona também como cinema, sala de dança e espaço para outras atividades artísticas. “A gente quer transformar vidas. Se cada um fizer a sua parte, conseguiremos transformar a realidade”, destaca.

Ainda criança, Bianca já demonstrava preocupação com a garotada do bairro e pedia a tia para abrir uma escola. Aos 9 anos, ela lançou o livro ‘O Reino do Amor’. Mesmo vivendo totalmente dedicada à ONG, Bianca se formou em Serviço Social em 2009 e se especializou em Políticas Públicas para Cultura.
Hoje, Bianca faz pós-graduação em Gerenciamento de Projetos no Terceiro Setor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Oportunidade

‘Não tinha condição de pagar escola’

Ediene Pontes, de 37 anos, é costureira voluntária na instituição. Enquanto trabalha de 8h às 17h, o filho, Maicon, 4, é alfabetizado pela manhã e à tarde faz aulas de dança. “Minha vida seria muito difícil, porque não tinha condições de pagar uma escola de qualidade”, afirma.

Há oito anos, Lorraine Gonzaga, 20, era mais uma das crianças atendidas pela ONG. Hoje, trabalha como professora de teatro, educação infantil e apoio escolar. “Quero continuar esse trabalho de transformação. Assim como um dia mudaram a minha vida, quero fazer isso para outras pessoas, permitindo o acesso a educação, cultura e lazer”, ressalta a jovem.

A ONG Mundo Novo se mantém com doações. Os contatos podem ser feitos pelo site www.ongmundonovo.org.br ou pelo telefone 2696-0871.

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