Por marcelle.bappersi

Apesar do abandono, a Baixada Fluminense é uma região muito rica, culturalmente falando. Há inúmeros grupos criativos produzindo e levando arte para a população. Mas esses ativistas culturais sofrem com a falta de espaços. E questionam a ausência de teatros nos shoppings.

Atualmente, a região conta com quatro centros comerciais: Caxias Shopping, em Duque de Caxias; Grande Rio, em São João de Meriti; Top Shopping, em Nova Iguaçu; e Nilópolis Square. Além deles, dois estão em construção: Shopping Dutra, em Mesquita; e Shopping Nova Iguaçu. Nenhum tem uma sala de teatro ou de um projeto.

Tarciso da Maia%2C da Cia Palhaços com Sol sem Dó%2C não tem motivos para sorrirAlexandre Vieira / Agência O Dia

“Sentimos dificuldade em ter um espaço e de nos apresentar nos que já existem. A agenda do Teatro Raul Cortez, em Duque de Caxias, por exemplo, está sempre cheia e de espetáculos de fora, o que enriquece a cultura, mas também queremos ter vez”, conta Tarciso da Maia, da Companhia Artística Palhaços Com Sol Sem Dó, que existe há cinco anos.

Ele afirma que, se houvesse teatro nos shoppings, locais de grande concentração de pessoas, os artistas ganhariam mais espaço, e a população não precisaria ir ao Rio.

Questionado sobre a ausência de um teatro em seu projeto, o Shopping Nova Iguaçu informou que “o foco inicial é atender às demandas identificadas como mais latentes pela população local”. Entre elas, estão a primeira filial da cidade de uma loja de departamentos, um parque com cerca de mil e quinhentos metros quadrados e um polo gastronômico.

A classe artística discorda. “Há demanda, sim! Os empresários que têm recursos para construir salas, precisam parar de jogar a responsabilidade para as companhias artísticas”, diz o ator e produtor Leandro Santanna, acrescentando onde falta investimento, a violência aumenta.

Sem ter onde consumir cultura, muitos vão para a capital. É o caso da produtora cultural Mayara Barbosa, de 25 anos. “Moro em uma das cidades (Nova Iguaçu) mais importantes – em termos de economia — do estado. Temos muitos grupos de teatro que trabalham diariamente para ser reconhecidos dentro e fora da região e, mesmo assim, somos muito carentes de espaços culturais, o que me leva a consumir cultura no Rio.

Top havia reservado espaço para teatro

Inaugurado em 1996, o Top Shopping, em Nova Iguaçu, reservou um espaço para construção de um teatro, que, segundo a atriz, produtora e professora Anna Márcia Mixo, nunca foi ocupado por falta de interesse dos investidores. Depois de três anos, o local deu espaço ao Game Point.

E Anna Mixo conta: “Por dois anos mantive uma sala no shopping, no G1, onde dava aulas de teatro e oferecia espetáculos para crianças e adultos”, diz ela, que garante que havia público. “No ínicio, as pessoas não conheciam, mas iam e gostavam”.

Anna, contra a vontade, teve que se desfazer do espaço. “Alegaram que precisavam do local, e eu tive que devolver”, lembra.

Procurado, o Top Shopping informou que, em pesquisa com o público, o teatro foi pouco citado. Alegou que promove atrações culturais, visando suprir a carência de ações culturais da região.

Falta de opções desestimula

Pesquisa feita em 2014 por uma consultoria especializada em estratégia de investimento em projetos culturais e esportivos, a JLeiva, mostra que uma grande barreira de acesso ao teatro enfrentada pelos moradores de Nova Iguaçu é a falta de espaços na região. Um terço das 299 pessoas entrevistadas afirmam não frequentar o teatro porque não tem um perto de casa.

Atualmente, a cidade só conta com dois teatros, um no Sesc, no bairro Moquetá, e o Teatro Sylvio Monteiro, na Casa de Cultura Ney Alberto, no Centro.

Administradoras de shoppings

O Caxias Shopping alegou que, apesar de não possuir um teatro em sua estrutura, é um grande incentivador da Cultura na Baixada Fluminense e abre seu espaço permanentemente para eventos culturais. O Shopping promove shows, exposições de arte e fotos e espetáculos teatrais.

O Shopping Nova Iguaçu informou que, além de atender às demandas, inaugurará o empreendimento com um palco na praça de alimentação. O local terá equipamentos profissionais de luz, som e camarim e receberá uma programação cultural ao longo de todo o ano, para crianças e adultos.


A reportagem é de Marcelle Abreu 


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