Rio - ‘É bom se proteger, abaixo de Deus”, resume Elizabeth de Oliveira, de 42 anos, moradora do Parque Califórnia, em Campos dos Goytacazes, e mãe de quatro filhos. Um deles, Messias dos Santos Pereira Júnior, 11, está entre os primeiros meninos a ser vacinados na cidade contra o vírus do papiloma humano (HPV). O município, administrado pela ex-governadora Rosinha Garotinho (PR), é o único do estado que oferece a vacina para o público masculino, de 11 a 13 anos. No Brasil, Farroupilha (RS) e Taboão da Serra (SP) também têm o serviço.
Oferecida pelo Programa Municipal de Imunização, a vacina protege contra verrugas genitais e cânceres relacionados ao HPV, como ânus, pênis e boca. A meta é imunizar 12 mil meninos nesta faixa etária somente neste primeiro ano — de 26 de março até ontem já foram 1,4 mil vacinados.
O município do Norte Fluminense se orgulha de ter sido o primeiro a oferecer a vacina para as meninas, em 2010, bem antes de o Ministério da Saúde decidir lançar a campanha nacional de vacinação, iniciada há um mês. Nos últimos três anos, 32 mil garotas de 9 a 15 anos já foram imunizadas, com mais de 90 mil doses da vacina.
“Atendemos um público muito maior ( meninas de 11 a 15 anos e não até 13, como é o limite previsto pelo Ministério da Saúde). Agora, vamos deslocar a verba que o município vai receber para os meninos, acompanhando a faixa etária nacional (11 a 13 anos)”, explicou o vice-prefeito e secretário municipal de Saúde, Dr. Chicão.
Informado pelo DIA sobre a estratégia adotada em Campos, o Ministério disse que a campanha pretende reduzir casos e mortes ocasionados pelo câncer de colo do útero e, por isso, a vacinação inicialmente é restrita ao sexo feminino.
Segundo o órgão, “estudos comprovam que os meninos passam a ser protegidos indiretamente com a vacinação no grupo feminino (imunidade coletiva), havendo drástica redução na transmissão de verrugas genitais após a implantação da vacina como estratégia de saúde pública”.
O programa de imunização de Campos já se tornou referência mundial. O diretor de Vigilância em Saúde, Charbell Kury, apresentará o modelo durante o 6º Congresso Mundial de Vacinas em Dalian, China, ainda este mês. Em agosto fará outra exposição sobre o tema no Congresso Mundial de HPV em Seattle (EUA). Em novembro de 2013, Campos apresentou dois trabalhos no 8º Congresso da Sociedade Mundial de Infectologia Pediátrica na Cidade do Cabo, África do Sul.
Extensão é recomendada por especialistas
Especialistas aprovam a decisão de ampliar o alcance da vacina quadrivalente (HPV), incluindo os meninos. “Campos demonstra estar alinhada com os melhores programas de vacinação disponíveis no mundo”, avalia Luisa Lina Villa, coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia das Doenças Associadas ao Papilomavírus (INCT-HPV).
Isabella Ballalai, presidente da regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), disse que a vacina é licenciada pela Anvisa para meninos de 9 a 26 anos desde 2008. A Austrália já vacina meninas nesta faixa etária desde 2006 e há cerca de dois anos estendeu também aos meninos, reduzindo os casos de doenças relacionadas ao vírus.
No entanto, Isabella afirma ser praticamente impossível adotar a medida em todo o país. “Pelo benefício que proporciona, a SBIM recomenda a vacina em meninos e meninas. Que bom para a população de Campos, mas vamos entender as limitações do Brasil”, disse, ao explicar a insuficiência de doses da vacina, que é importada, no mercado mundial.
Para a prefeita Rosinha Garotinho (PR), os resultados refletem a política de saúde pública e gratuita em Campos. “Prevenir, como diz o ditado, é o melhor remédio. Por isso, implantamos as vacinas especiais (além do HPV, o município vacina contra catapora, hepatite A e meningite pneumocócica). Fazemos mais do que faz o Ministério da Saúde. Investimos no ano passado mais do que o dobro do índice constitucional, ou seja, 41%”, disse.
O ministério informou que até ontem foram aplicadas 3,2 milhões de doses no Brasil, 78% da meta de imunizar 4,1 milhões de meninas em 2014. No estado, 225 mil foram vacinadas (71% da meta).
Reportagem de Rosayne Macedo