Por bianca.lobianco

Rio - A Copa do Mundo se aproxima e, com ela, uma série de oportunidades para municípios localizados a curta distância do Rio de Janeiro. Na Região Serrana, Teresópolis, casa da Seleção Brasileira, e Petrópolis estão na escalação do time de beneficiados pelo evento esportivo. A Cidade Imperial deve receber a maior movimentação turística de sua história. Para se ter uma ideia do impacto provocado pelos jogos, são esperados 690 mil turistas até o final do ano, 90 mil a mais que em 2013 — um aumento de 15%.

O número de vagas oferecidas pela rede hoteleira deu um salto de 13%, chegando a 5.479 leitos espalhados por 104 estabelecimentos, entre hotéis, pousadas e hostels. A expectativa é de 100% de ocupação em junho, mês em que começa o torneio.

413 mil turistas estrangeiros são esperados no estado na Copa. Outros 841 mil são brasileirosDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Em Teresópolis, são 56 hotéis e pousadas. O número inferior ao de Petrópolis, no entanto, surge como oportunidade. Perto da Granja Comary, local de treinos da família Scolari, é possível ver muitos anúncios de “aluga-se”. E a procura existe. Principalmente porque a rede hoteleira em bairros próximos à sede da CBF já está com 100% de ocupação. “Aproveitei a oportunidade”, comemora o engenheiro Davi Fernandes, que alugou a casa para uma equipe de TV.

Por indicação da mãe, o empresário cearense Ítalo Veras, de 23 anos, decidiu conhecer Petrópolis com a noiva, a psicóloga Renata Santana, de 33, esta semana. Depois de apenas um dia na cidade, o casal já planeja voltar durante o período da Copa. “O clima é ótimo, e a arquitetura também é muito interessante”, elogia Renata.

O colombiano Fernando Garcia Garavito já tem nas mãos o ingresso para assistir o jogo das oitavas de final, no Maracanã. O lugar escolhido para a estadia no Brasil foi uma pousada no Centro de Petrópolis. “É uma cidade bem próxima do Rio e com preços mais em conta para hospedagem. Fiquei sabendo que é um local muito bonito e me interessei pela história do imperador (Dom Pedro II)”, conta ele, que espera ver a Colômbia na segunda fase da Copa.

Leiva Abreu, de 37 anos, comemora a decisão de Garavito. Dona da pousada Vettore, ela já tem todos os 20 quartos reservados para o mês de junho. “A maioria da procura é de estrangeiros: americanos, ingleses e colombianos. Mas tem até russo”, surpreende-se.

O turismo no meio do ano deve ser potencializado também por outros eventos tradicionais de Petrópolis, como lembrou o prefeito Rubens Bomtempo: “Temos a festa alemã Bauernfest, que terá a sua 25ª edição iniciada em 27 de junho, além dos nossos festivais de inverno, que foram ampliados.”

Entusiasmado%2C Manuel Peres%2C 63%2C já contratou cinco pessoas para sua padaria próximo da Granja ComaryDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Búzios registra alta temporada em pleno inverno

Não só as cidades mais próximas do Rio sentem os efeitos da Copa. Distante mais de 175 quilômetros da capital, Armação dos Búzios já tem metade dos hotéis e pousadas reservados para junho. Para José Marcio Moreira dos Santos, secretário de Turismo do badalado balneário da Região dos Lagos, “não haverá baixa temporada neste ano.”

E não são apenas turistas vindos de fora do estado ou do país. A procura é bastante grande por parte de cariocas. “Búzios tem sido muito procurada por pessoas que querem alugar seus apartamentos no Rio e vir para cá durante o Mundial. Tem muita gente à procura de outro lugar para ficar durante o evento”, afirma. A prefeitura planeja instalar dois telões para transmistir os jogos e promover atrações como danças e comidas típicas dos países que disputarão a Copa.

Petrópolis qualifica profissionais para receber turistas estrangeiros

Para receber o que deverá ser o maior movimento de turistas de sua história, Petrópolis se prepara das mais diversas formas. Diretora da Fundação de Cultura e Turismo, Evany Noel conta que recentemente foram formados 200 profissionais para trabalhar na área de serviços, por meio do Pronatec Copa, a etapa do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, voltada para os jogos.

“Em parceria com o Ministério do Turismo, treinamos esses profissionais para receber toda essa gente que deve vir para cá. Demos especialização a cozinheiros, garçons, recepcionistas e também para os condutores das vitórias (charretes). Devemos formar uma segunda turma ainda este mês”, afirma.

O cuidado se estende à apresentação da cidade. A sinalização das principais vias já está em inglês e português, bem como as placas de pontos turísticos. Pelos seis centros de informação, são disponibilizados folhetos com dicas de programação em inglês, espanhol e português. “O turismo sempre foi muito forte em Petrópolis, por isso temos que buscar qualificação contínua”, avalia Evany, que aposta em construções históricas como trunfo.

Empreendedorismo verde e amarelo

Manuel Peres, de 63 anos, é dono de uma tradicional padaria a cinco minutos de carro do centro de treinamento da Seleção Brasileira. Há 43 anos conduzindo o Café e Bar Comary, Manuel contratou recentemente cinco ajudantes para tocar o negócio.

O investimento, de cerca de R$ 4 mil por mês, vale a pena. “Ainda nem estamos na Copa e já tenho um aumento de 25% das vendas. O movimento no Carnaval foi ótimo este ano e a expectativa para o Mundial é melhor ainda”, comenta.

Já a empresária Tânia Reis, de 50 anos, não teve a mesma sorte: ainda está à procura de duas manicures para integrar o staff do salão Glamour. “Semana que vem, começo a montar a decoração. Quem quiser pintar a unha de verde e amarelo terá desconto”, afirma.

Secretário de Turismo de Teresópolis%2C Ronaldo Fialho%3A 'Durante o evento%2C devemos chegar perto do teto'Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

Dois em cada três visitarão o estado

"A dois meses da Copa do Mundo, já estamos com 92% da nossa rede hoteleira ocupada. Durante o evento, devemos chegar perto do teto”, avalia, otimista, o secretário de Turismo de Teresópolis, Ronaldo Fialho.

A previsão deve se concretizar: dados da Secretaria de Estado de Turismo revelam que são esperados 413 mil estrangeiros e outros 841 mil brasileiros visitando o estado. A cada três turistas em movimentação pelo país, dois passarão por alguma cidade fluminense.

O espanhol José Botin, de 58 anos, dono do Fígaro, um restaurante de massas em Teresópolis, está com reservas para todo o mês de junho. “Fui solicitado por quatro equipes da imprensa espanhola.” Apesar de viver no Brasil há 28 anos, o catalão garante: “Torceria pelo Barcelona, mas, como ele não joga a Copa, me contento em torcer pela Espanha.”

O secretário de Turismo disse que estão em estudo melhorias necessárias para que a cidade possa atrair mais turistas o ano todo, não só no período de inverno. Entre as quais, estão a reforma do Mirante e a recuperação do Lago Iacy.

Reportagem de Paulo Capelli

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