Por bianca.lobianco

Rio - A professora aposentada Ana Maria Lustosa não tem fobia de futebol e nada contra Neymar ou Felipão. Entretanto, ela vai estar a cerca de 70km do Rio no próximo dia 12, abertura da Copa do Mundo. A decisão de viajar para Petrópolis, na Região Serrana, em companhia de uma irmã e amigas, está relacionada à percepção de que, durante os 30 dias do Mundial, a capital fluminense estará especialmente tumultuada, com os nervos à flor da pele, em um movimento pendular entre o delírio esportivo coletivo e as convulsões sociais.

“O Rio já tem vivido um aumento do caos urbano em seu cotidiano, com manifestações que resultam em violência, engarramentos o dia todo e serviços paralisados por grevistas”, disse Ana Maria. “Durante a Copa, talvez tudo isso se agrave. A cidade vai estar mais cheia e, possivelmente, os ânimos vão estar mais inflamados. Na Serra, as coisas certamente estarão mais tranquilas”, observa a professora, de 62 anos, moradora de Botafogo, na Zona Sul.

Petrópolis está entre os destinos mais procurados para hospedagem%2C segundo levantamento do Hotel UrbanoDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

O fluxo em direção ao isolamento e ao silêncio comuns a recantos do interior do estado está no radar daqueles que mais devem lucrar com o movimento. Levantamento da agência de turismo online Hotel Urbano aponta que, em municípios distantes até 300 quilômetros das cidades-sede da Copa, a procura por pacotes de viagens e hospedagem para junho e julho está, em média, 20% superior em comparação com o mesmo período de 2013.

“No caso dos moradores do Rio, a Copa funciona para incentivar as viagens curtas”, afirma Antônio Gomes, diretor comercial da agência. “Itaipava (Petrópolis) e Teresópolis (na Região Serrana), Visconde de Mauá (no Sul Fluminense), Angra dos Reis, Armação dos Búzios, Cabo Frio e Arraial do Cabo (na Região dos Lagos) têm sido os destinos mais procurados”, acrescenta.

Segundo Gomes, essas e outras cidades também podem se beneficiar da rejeição de turistas brasileiros e estrangeiros aos preços salgados cobrados pela rede hoteleira do Rio. “Muitos que vão assistir aos jogos no Maracanã têm optado por se hospedar em cidades litorâneas, como Angra e Búzios, e virão para a capital apenas nos dias das partidas”, ressalta.

Cidades-sede de seleções atraem mais hóspedes

Embora a Secretaria Estadual de Turismo e a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis</CW> (Abih-RJ)ainda não tenham números conclusivos sobre as taxas de ocupação do primeiro semestre, sabe-se que Teresópolis — onde está a Granja Comary, casa da Seleção Brasileira — e Mangaratiba — porta de entrada da Costa Verde, escolhida como sede pela Itália —, já registram aquecimento da atividade econômica associada à Copa. “Estamos verificando aumento das reservas em hotéis e pousadas em razão do interesse pela presença de Brasil e Itália nesses locais”, disse Lopes.

Segundo dados do Teresópolis Convention & Visitors Bureau, os hotéis do bairro do Alto, próximo à Granja Comary, e os do Centro estão com 100% de ocupação até 13 de julho, dia da final no Maracanã.

Alfredo Lopes, presidente da Abih-RJ, diz que não é possível vincular esse deslocamento turístico a um eventual ‘bye, bye Rio’ durante o Mundial. “Isso pode acontecer se nas próximas semanas os cariocas continuarem convivendo muito com crises sociais, como protestos violentos e greves”, avaliou.

Serra espera temporada mais ‘quente’

Gerente do Hotel Le Canton, em Teresópolis, Brunno Poli festeja o fato de as reservas já feitas por moradores do Rio e de Belo Horizonte coincidirem com a tradicional alta temporada de inverno da cidade. “Já estamos recebendo pessoas que, de fato, pretendem se manter longe da confusão prevista para o Rio e vêm à Serra para aproveitar o frio, que está entre os 7º e os 10ºC.”

O desejo de evitar grandes aglomerações no Rio também é citado por quem procura hospedagem em Nova Friburgo, outro habitual destino de apaixonados pelo friozinho da Serra. “Alguns hotéis estão com aumento de 15% na procura em relação ao ano passado, devido à fuga do Rio durante a Copa e ao período de férias escolares. As pessoas comentam que querem ficar em um ambiente mais tranquilo”, afirma Valéria Kratochil, gerente do Nova Friburgo Convention & Visitors Bureau.

Reportagem de Paulo Maurício Costa

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