Por thiago.antunes

Rio - Um descaso que já dura 35 anos. No topo da Serra das Araras, às margens do Km 226 da Via Dutra, em Piraí, no Sul Fluminense, o Monumento Belvedere, fechado desde 1978, virou símbolo do abandono de patrimônios nacionais. Localizado numa área de 54 mil metros quadrados de construção arquitetônica em estilo art déco, o monumento teve sua pedra fundamental lançada em 1928 pelo presidente Washington Luiz, como marco da abertura de estradas no Brasil e em homenagem aos rodoviários.

O imponente farol%2C de 46 metros de altura%2C já abrigou um restauranteErnesto Carriço / Agência O Dia

O local ostenta um imponente farol de 46 metros de altura, erguido sobre dois pavimentos, que abrigavam um restaurante. O equipamento — único do gênero no Brasil — lançava fachos de luz que giravam 360 graus, alertava pilotos de aeronaves e podiam ser vistos a longas distâncias.

Na base da construção, na parte externa, oito raros baixos-relevos, em que figuras sobrelevam o plano que lhes serve de fundo, de autoria do escultor francês Freyhoffer, narrando a evolução dos meios de transporte no Brasil desde a época da escravidão, se deteriora com o tempo. Na parte interna, quatro painéis de Cândido Portinari, com o tema “A construção de uma rodovia”, em alusão à abertura da Via Dutra, foram retirados em outubro de 2000 e levados para o Museu de Belas Artes do Rio.

A equipe do DIA comprovou, com fotos e filmagens, vestígios de roubos de fiações elétricas, luminárias, louças dos banheiros e metais. As paredes estão pichadas e com marcas de tiros. Não há sequer um vidro inteiro. Piscinas no entorno do monumento formam criadouros de mosquitos. Sem nenhum vigia, qualquer pessoa entra no local que, segundo testemunhas, serve até de esconderijo para bandidos.

“Dá um aperto no coração ver uma construção tão maravilhosa, que servia de mirante e descanso para motoristas e turistas, e gerava dezenas de emprego, se acabando dessa forma”, lamenta Maria Cristina Alvarenga, de 53 anos, que tem uma barraca de coco na beira da estrada.

Órgãos não assumem restauração

O farol foi construído pelo Touring Club. Há três anos, depois de relatório da Gerência Regional de Patrimônio da União, relatando o abandono da obra, o Ministério Público Federal recomendou a restauração da estrutura, de responsabilidade da União, ao governo federal, por sua “relevância para a história nacional”.

A mesma recomendação foi feita à Nova Dutra (hoje CCR Nova Dutra), que explorou o monumento por vários anos e o devolveu depredado em 1998 ao extinto DNER, atual Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e ao Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac), que em 1990 tombou provisoriamente o monumento. Nenhum dos órgãos, que divergem sobre a responsabilidade da restauração, acatou a recomendação até hoje.

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