Por thiago.antunes

Rio - Intelectuais do mundo inteiro se encontram até domingo na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que este ano homenageia Millôr Fernandes. Escritores, artistas e poetas se reúnem na cidade para debater questões ligadas à cultura e leitura, além de aproveitar shows da música popular brasileira. Esta 12ª edição traz 47 autores de 15 nacionalidades diferentes. Mas não são apenas os mais de 25 mil visitantes esperados no evento que ganham com esse banho cultural. Muitos moradores da cidade aproveitam para lucrar com a festa.

De olho no friozinho dessa época do ano e no clima romântico da região da Baía da Ilha Grande, o marinheiro Antônio da Silva, de 52 anos, transformou seu barco em um palco para recital de poesias. A faixa em cima do veículo com os dizeres “Embarque na poesia, 50 minutos de degustação literária a bordo” combina com o tema da festa aberta ontem. “Aluguei para a organização da Flip. São três saídas por dia, com 15 passageiros em cada uma. As pessoas recitam poesias durante 50 minutos. É o primeiro de muitos anos em que pretendo fazer isso. Dá para ganhar um bom trocado”, disse.

Poesia a bordo%3A o marinheiro Antônio da Silva%2C de 52 anos%2C alugou o seu barco durante a Flip. A embarcação foi adaptada para receber recitaisDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Apoiadora da Flip, a Prefeitura de Paraty também aposta no retorno de imagem trazido pelo evento. “Quando a festa foi criada, a prefeitura apoiava com espaços cedidos. Agora, há um aporte de dinheiro. Esse ano, colocamos R$ 600 mil na Flip. Tudo é revertido. Há um aumento na arrecadação com impostos sobre serviços e benefícios que não podem ser medidos, como a divulgação da nossa cidade. A população, no fim, também ganha com isso. A feira também potencializa as transformações na cidade nas áreas de preservação do patrimônio, educação, cultura e infraestrutura urbana. O que acaba tornando um meio forte de mudanças no modo pelo qual a população faz uso dos espaços públicos”, enalteceu o prefeito Carlos José Gama Miranda, o Casé (PT).

Com cerca de 10 mil leitos, em 500 pousadas e hostels, o setor de turismo é o que mais lucra com a festa. “Aqui em Paraty, temos 12 eventos de grande porte por ano. Por isso, a cada festa dessa, mais turistas vêm ao município, gerando uma grande movimentação econômica em todos os setores. A Flip é o carro-chefe. A taxa de ocupação, que em um final de semana é de 60% em média, passa para mais de 90%”, explicou o subsecretário de Turismo, Gabriel Costa.

Esta ocupação só não é maior para evitar um tumulto no município, como afirma o diretor do Convetion Bureau de Paraty, Sebastian Urquijo. “Nos cinco primeiros anos, houve mais gente do que a capacidade que a cidade comportava aconchegantemente. A Flip se tornou muito popular. Muita gente vinha por causa dos shows, e não pelo principal objetivo, que é a literatura. Isso prejudicava os serviços, além da qualidade, que caia. A partir de então, a organização encontrou um norte e a festa melhorou. A cidade sempre se prepara para receber turistas de alta qualidade”, ressaltou.

'Flip é o carro-chefe do calendário de eventos'%2C diz Gabriel Costa%2C subsecretário de TurismoDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Comércio aumenta vendas em 50%

O evento inspira a criação de novos negócios, como a Pousada Literária, eleita a hospedagem oficial dos autores da festa. Localizada na Rua do Comércio, a pousada recebe os escritores convidados. Um dos destaques é a biblioteca com títulos escolhidos pelo curador da Flip, o jornalista Miguel Conde. Os 23 quartos também dispõem de uma pequena seleção de livros e um cantinho de leitura, com poltronas, sofás e luminárias.

O presidente da Associação Comercial de Paraty, Vitor José da Silva, ressalta o impacto da Flip nas lojas de artesanato, ateliês, bares e restaurantes. “Temos outros eventos, mas pelo menos para o comércio, a Flip é a que gera mais retorno. Essas áreas aumentam mais de 50% com a festa. O movimento chega a 90% e esperamos que lote no fim de semana, quando as pessoas vêm mais”, afirma.

Com mesinhas ao ar livre, o restaurante Barril, do italiano Simone Colucci, 45, comemora o início da Flip. “O número de frequentadores dobra nesse evento. Enquanto em um fim de semana normal, aproximadamente 300 pessoas comem e bebem aqui, nessa época passa para 600, ou até mais”, ressaltou o empresário.

Evento gera empregos temporários

O artista de rua Valter Júnior, 34, que circula pelo centro histórico fantasiado de Charles Chaplin, espera faturar durante a Flip. “Moro em Paraty há um ano e meio e estava desempregado há dois meses. Fazia flores artesanais com folha de coqueiro e vendia nas mesas dos restaurantes, mas a atividade foi proibida. Então, arrumei essa fantasia, que tem tudo a ver com a Flip, pois Chaplin era um verdadeiro poeta, e estou trabalhando para me sustentar e levar um pouco de alegria às pessoas.”

Já a paulista Jéssica Mazzetti, 33, trabalha com a recepção dos autores no evento. “Moro há sete anos em Paraty e desde então sempre participo da Flip dando todo o suporte para os autores. Faço relações públicas e indico os melhores lugares para irem na cidade, além de todo o cuidado que eles precisam em termos de logística.” 

Somente na infraestrutura do evento são empregadas 90 pessoas. “Nós que trabalhamos aqui podemos aumentar nosso orçamento do mês. Tirei férias do trabalho justamente para estar livre nesse período, que é quando ganho um dinheiro extra”, afirma Ronaldo Conceição, responsável por inspecionar 90 homens para que tudo esteja 100% durante a festa.

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