Rio - Dezenove de fevereiro de 2014, uma data que os americanenses jamais esquecerão. O dia em que seu palco de vitórias, alegrias e conquistas começou a vir ao chão. Sede do centenário Americano Futebol Clube, o Estádio Godofredo Cruz, localizado há 60 anos em área nobre de Campos dos Goytacazes, dará lugar a um centro empresarial, cujo projeto é guardado a sete chaves pela Imbeg Engenharia.
O lendário campo do Parque Tamandaré foi negociado, em forma de permuta, para saldar as dívidas tributárias do clube, que chegavam a R$ 4 milhões. Em troca dos 25 mil metros quadrados do estádio e da área social do Americano, a empresa ofereceu um terreno de 200 mil metros quadrados no bairro de Guarus para a construção do novo complexo esportivo.
As obras de demolição prosseguem em ritmo lento, enquanto cresce entre torcedores e moradores um clima de desalento. Vinícius Biligui, de 37 anos, presidente da Império Americano e da associação das torcidas organizadas do clube, lamenta a destruição do estádio.
“É uma perda irreparável. No ano do centenário do clube, nós perdemos nosso maior patrimônio material. O bom é que ainda temos a nossa torcida como patrimônio.” Apesar da esperança de dias melhores, o sentimento é de saudade da antiga casa. “Por mais que tenhamos convicção e sejamos futuristas em acreditar que o novo complexo vá fazer o Americano grande novamente, a gente vai sentir muita saudade do nosso eterno Godofredo Cruz. O estádio vai ficar na memória do torcedor para sempre.”
Leandro Nunes, 38, que é jornalista e participou de diversas coberturas esportivas no local, conta que ali teve as melhores experiências da carreira. “Quando a gente passa por lá e já não vê mais o estádio inteiro chega a bater uma dor no coração. De lá eu guardo boníssimas recordações e outras ruins, é claro.”
Ex-jogador e presidente do Americano, Luciano Viana também diz lamentar a perda. “Foi no Godofredo Cruz que eu brilhei com o clube. Perder o estádio é uma dor muito forte para nós. Pelo lado da presidência, considero um crescimento. Vamos para um lugar mais estruturado, maior, onde vamos desenvolver melhor o nosso jogo.”
O professor Orávio de Campos, superintendente de Cultura e Patrimônio Histórico de Campos, afirma que o estádio vinha apresentando uma série de problemas. “O estacionamento tinha pouco espaço para carros e o acesso era muito ruim. Tudo isso dificultou muito o crescimento do local. Inclusive a Federação de Esporte do Rio se recusava colocar jogos importantes lá. O Americano já não tinha condições de permanecer onde estava”, completou.
Novo estádio terá apenas 8 mil lugares
O projeto de construção do novo Complexo Esportivo Social inclui um Centro de Treinamento (CT) e um estádio, com capacidade para oito mil pessoas, que deve levar três anos para ficar pronto. Enquanto isso, segundo o presidente Luciano Viana, o clube continuará tendo que se deslocar 56,5 quilômetros para treinar no estádio da cidade de Cardoso Moreira, para a disputa da Série B do Campeonato Carioca.
Fundado em 24 de janeiro de 1954, com capacidade para 12.300 torcedores, o Godofredo Cruz era o terceiro maior do estádio do interior do estado — só perdia para o Raulino de Oliveira, em Volta Redonda, e o Claudio Moacyr de Azevedo, em Macaé. Em março de 1983, o estádio bateu recorde de público pagante (22.853 pessoas), num histórico empate 2 x 2 entre Americano e Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro.
A futura sede do Americano marcará a divisão geográfica com o eterno rival do Alvinegro, o Goytacaz. Até este ano, os dois clubes tinham suas sedes na margem direita do Rio Paraíba do Sul, que corta a cidade. Com a ida para Guarus, o Americano atravessará o rio e vai para a margem esquerda, enquanto o rival permanece no Centro. Procurada, a Imbeg não detalhou o projeto.