Rio - Paróquia Nossa Senhora do Pilar, em Duque de Caxias. Por lá, a expressão ‘obra de igreja’ faz sentido e amedronta os fiéis. Dez anos depois que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) iniciou as intervenções de restauro da construção de quase 400 anos — nunca finalizadas —, as obras prometem ter seu desfecho anunciado hoje pela prefeitura da cidade.
Uma parceria com a iniciativa privada será anunciada, em conjunto com a Diocese de Caxias e o Iphan, para executar o novo projeto de restauração, que deverá ser financiado por empresários da região, ao custo previsto de R$ 4 milhões. A ação veio a reboque das manifestações de religiosos no último mês. Inconformados, eles protestaram contra a deteriorização do patrimônio histórico.
Corroídas por cupins, partes dos andaimes de sustentação vieram abaixo no último mês, obrigando a Diocese a interditar de vez o templo, onde já não eram realizados casamentos e batizados há décadas. “É um absurdo. O fiel que pensa em rezar nesta igreja já entra fazendo um pedido: o de sair vivo”, ironiza a dona de casa Janete Cristóvão, de 68 anos. A revolta dela e de outros devotos teve início em 2004, quando o Iphan iniciou a reforma estrutural do imóvel.

“Os processos de restauro são geralmente demorados, pois são feitos em etapas, por conta do detalhamento que exigem. Os limites orçamentários impediram a conclusão dentro do prazo”, justificou o superintendente do Iphan-RJ, Ivo Barreto. Na primeira fase da recuperação, os três altares da igreja — banhados a ouro, em estilo barroco — serão removidos por técnicos especializados, reformados e reinstalados em até seis meses.
A retirada imadiata já foi autorizada pelo Iphan, que a calcula em até R$ 400 mil. Com isto, será possível o cálculo dos custos da dedetização geral, controle de umidade e reformas externas, que devem somar pelo menos mais mais R$ 3 milhões à conta, segundo o órgão. “Faremos o laudo inicial e iremos assessorar o projeto de restauro”, disse Barreto.
Para o historiador Leonardo Rocha, 32 anos, frequentador do local há 17, o sonho é que a construção erguida por mineiros, durante o Ciclo do Ouro, no século 17, volte a ser ponto turístico. “Ainda vou voltar a vê-la como atração da cidade.” Com a reforma, a prefeitura pretende transformar o templo no principal polo de romarias do estado. No dia 12, a praça local sediará a romaria de Nossa Senhora da Aparecida. Ao contrário de outros anos, no entanto, não haverá visitação à paróquia.

Relíquia do Ciclo do Ouro data de 1727
O santuário é inspirado nas tradicionais igrejas do interior de Minas Gerais. A atual estrutura foi erguida em 1727. Porém, o uso do espaço começou 100 anos antes. “Era um ponto de referência para o Caminho Novo das Minas e de devoção durante as longas viagens no lombo dos burros”, conta o historiador Gênesis Torres.