Por daniela.lima

Rio - Símbolo da bandeira do Estado do Rio, os botos-cinza estão cada vez mais desaparecendo do cenário fluminense. A espécie está na lista das dez mais ameaçadas do estado. Mangaratiba, na Região da Costa Verde, é a cidade com maior incidência na América Latina, com cerca de mil animais. Em 2012, o boto-cinza se tornou patrimônio natural da cidade. Mas, segundo dados do projeto “Abrace o Boto Cinza”, o número de mortes vem aumentando. Enquanto de 2010 a 2013 houve 180, apenas de janeiro a outubro deste ano 52 animais foram abatidos. A principal causa é a pesca predatória. 

Boto-cinza é uma das dez espécies mais ameaçadas do estado. Em 2014%2C foram 52 mortes em MangaratibaDaniel Castelo Branco / Agência O Dia


Por isso, pensando na preservação do boto-cinza, a Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca de Mangaratiba vai publicar decreto para a criação de uma unidade de conservação municipal de uso sustentável, chamada de Área de Proteção Ambiental (APA) Marinha Boto Cinza. O documento será enviado à Câmara de Vereadores no próximo dia 25. No último dia 23, a secretaria fez audiência pública para tratar da ação.

“Queremos que no verão a lei já esteja aprovada e, assim, iniciaremos os primeiros passos para a implantação da unidade. A partir dessa aprovação, vamos correr atrás dos recursos para pôr em prática o plano de manejo, que é a bíblia da unidade de conservação”, explicou a secretária Natacha Kede.

O projeto vai delimitar as áreas de maior incidência do boto para evitar que ocorram mais mortes. “Estamos sensibilizando e informando as pessoas sobre esse problema e nada melhor do que criar uma área protegida. O local é sustentável e, portanto, serão permitidos pesca artesanal, esporte náutico, turismo, atividade de pesquisa e educação ambiental”, completou.

A infraestrutura contará com uma guarda específica para fiscalizar barcos vindos de outros estados para evitar a pesca predatória. Além dos peixes, muitos botos acabam ficando presos nas redes e morrem.
“A partir da lei, a guarda vai ser permanente. Tenho certeza de que, com esse maior controle, teremos uma vida marinha mais equalizada e o ecossistema protegido”, afirmou o coordenador do Grupamento de Proteção Ambiental (GPA), Silva Pinto.

Recentemente, Ibama, Inea, Polícia Federal, Ministério Público Federal e Capitania dos Portos, com apoio das prefeituras de Mangaratiba e Angra dos Reis, definiram fazer operações conjuntas para coibir a mortandade ilegal do boto-cinza na Baía de Sepetiba, com a apreensão dos instrumentos irregulares usados para a prática do crime. Estima-se que a baía abrigue a maior população registrada de boto-cinza (Sotalia guianensis), entre 739 e 2.196 animais.

Pescador crê em prejuízos

A criação da área de proteção dos botos é vista com ressalvas pelo presidente da Associação dos Pescadores de Mangaratiba, Ivan Lage. “Os pescadores sempre saem perdendo com essas ações. Nunca olham o nosso lado. Se não bastasse o problema dos navios que estão fundeados, agora vem essa área de preservação”, disse. 

Segundo Lage, o número de pescadores está diminuindo. “Muitos filhos de pescadores nem querem mais saber de pescar. Sabem o sofrimento que o pai passa para sustentar a família. Daqui a pouco, ao invés de ter cuidado com animais em extinção, vão ter que se preocupar com o pescador em extinção. Vai chegar um tempo em que as pessoas vão ter que pescar o seu próprio peixe”, reclama. 

O biólogo da Secretaria de Meio Ambiente de Mangaratiba, Leonardo Gonçalves, disse que os pescadores não precisam se preocupar: “Nosso intuito é beneficiar as associações locais. Para que o peixe possa se reproduzir e ter mais quantidade é preciso preservar. E essa reprodução passa pela manutenção desse ambiente.”

A secretária Natacha Kede diz entender o pescador. “Eles estão muito sofridos com as áreas de fundeio e o canal. Isso tudo criou área de exclusão de pesca. Mas a secretaria está do lado deles e têm que acreditar que o projeto vai dar certo”, completou.

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