Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - A receita é simples, mas dizem que levanta até defunto. O famoso Conhaque de Alcatrão de São João da Barra é conhecido por aumentar a potência sexual, além de curar e prevenir doenças como gripe e dor de garganta. Realidade ou crendice popular, o criador da bebida, Joaquim Thomáz Filho, teve 25 filhos, sendo 23 com a primeira esposa e mais dois com a segunda. “Ele, com certeza, ajudou a criar esse mito. A bebida ficou com esse rótulo de aumentar o apetite sexual dos consumidores”, conta o gerente geral e procurador do Grupo Thoquino, Hélio Delbons.
As propriedades afrodisíacas da bebida nunca foram comprovadas cientificamente, mas tal qual a Coca-Cola, a fórmula é guardada a sete chaves há mais de um século. Detentor dos “segredos” da bebida, o gerente de fabricação, Marlício do Amaral, 59 anos, seguiu um plano de carreira na empresa e hoje pode ser considerado um dos empregados mais valorizados. “Vim trabalhar como servente em 1970 e estou até hoje na fábrica. Agora, sou eu que desenvolvo os produtos, controlo a entrada de matérias-primas e insumos e guardo a fórmula do conhaque”, afirmou.
Na fábrica%2C inaugurada em 1908%2C trabalham direta e indiretamente 1%2C5 mil pessoas. O guardião da fórmula do conhaque é Marlício%2C de 59 anosDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Fundada há 106 anos, a fábrica da bebida que chega a gerar 1,5 mil empregos, entre diretos e indiretos, faz parte da história de São João da Barra, que hoje vê expandir a economia focada em infraestrutura logística e portuária, por conta do Porto do Açu, que resgata uma antiga vocação da cidade.Por volta de 1740, existia um porto em São João da Barra. Na época, o Rio Paraíba do Sul era altamente navegável e toda a produção de hortifruti e cana-de-açúcar do Norte e Noroeste do estado era escoada por lá. Somente navios costeiros com até 20 toneladas podiam atracar no porto.

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“Na ocasião, só se chegava à cidade de trem ou navio. A construção das estradas acelerou o declínio dos portos. Quando o ciclo portuário acabou, muitas pessoas que trabalhavam lá foram incorporadas à fábrica de conhaque. Agora, um novo ciclo começou com a chegada do Porto do Açu, com dimensões incomparáveis”, conta o professor Alcimar das Chagas Ribeiro, do Laboratório de Engenharia de Produção da Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense).
Além do conhaque, a fábrica produz e engarrafa mais 12 marcas, entre elas, a Brasilberg, uma bebida digestiva de 180 anos, oriunda da alemã Underberg AG, feita de ervas aromáticas de 43 países. Com ervas da Amazônia incorporadas à fórmula original, surgiu a bebida brasileira com um sabor próprio.
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Em outubro, o Grupo Thoquino lançou no mercado nacional o Prosecco Balotelli Extra-Dry. Com chancela de legítimo prosecco italiano, a bebida é elaborada 100% com uvas Glera, produzidas em Verona, Norte da Itália.
Uma família dedicada à produção
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Anselmo José Moreira, de 56 anos, ouviu durante toda a sua infância histórias sobre as maravilhas e os “milagres” que o Conhaque de Alcatrão proporcionaram para sua família. Seu pai, um tio e três primos trabalharam na fábrica quando ele ainda era pequeno. Aos 15 anos, Anselmo foi ser jovem aprendiz e não saiu mais da empresa, onde trabalha há 41 anos. “Quando entrei tudo era feito manualmente. As garrafas eram embaladas em caixa de madeira”, lembra ele, hoje gerente de suprimentos.
Em 1975 houve uma grande modernização com a chegada de novos equipamentos. Na década de 1990, com novas linhas de produção e unidades engarrafadoras, foram lançados novos produtos. Em 2009 foi aberta uma nova unidade fabril, em Cabo de Santo Agostinho (PE), responsável pelo fornecimento à região Nordeste e parte da região Norte do país. Hoje, são produzidas cerca de 2 milhões e 40 mil garrafas por mês. Cerca de 40% da produção vêm de Pernambuco e 60%, de São João da Barra. O estado que mais consome a bebida é o Maranhão (30%). O Rio representa 10% das vendas.
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