Por eduardo.oliveira

Rio - O projeto de construção de uma barragem no Rio Guapiaçu, em Cachoeiras de Macacu, na Região Metropolitana do Rio, continua causando polêmica. Enquanto o governo do estado afirma que a iniciativa vai aumentar a oferta de água para as cidades de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá, beneficiando cerca de seis milhões de pessoas, os produtores rurais de Cachoeiras de Macacu já contabilizam os prejuízos.

Ontem, os agricultores prometeram fazer um protesto na frente à sede do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), no Rio, o que não aconteceu. No entanto, eles conseguiram uma reunião com o secretário do Ambiente, André Corrêa. Nela, estiveram presentes também o subsecretário de estado de Projetos e Intervenções Especiais, Antônio da Hora; o prefeito de Cachoeiras de Macacu, Waldecy Fraga Machado; o secretário municipal de Meio Ambiente, Loir Gonçalves de Lima; e alguns agricultores que serão afetados pelas obras.

"Fomos pedir um diálogo franco para saber o que vai ser feito. No próximo dia 27, o secretário André Corrêa marcou uma reunião na área onde vai ser construída a grande barragem e outra no dia 3 de março na sede do Inea, com técnicos do Comitê de Bacias Hidrográficas para eles apresentarem as outras possibilidades", destacou a agricultora Rosilene Viana de Melo, de 39 anos, que terá sua propriedade afetada caso a grande barragem seja construída.

Segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do município, Almir Dias, a obra ameaça promover a remoção de três mil famílias de pequenos agricultores e assentados da reforma agrária, além de inundar uma extensa área agrícola responsável pela produção de 40% de alimentos, como de aipim e milho que são distribuídos no Ceasa e feiras livres da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. 

A barragem terá 17 metros de altura e vai armazenar 90 milhões de litros de água. A construção está orçada em R$ 250 milhões, recursos procedentes de medida compensatória para a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e prevê o desmatamento de 12 milhões de árvores.

Alternativa de menor impacto

Dias argumentou que técnicos de Cachoeiras de Macacu e ambientalistas fizeram um estudo em que poderiam ser construídas três pequenas barragens com menos impacto ambiental.

"Ao invés de três mil agricultores, essa outra ação afetaria cerca de 100. Duas barragens seriam feitas em encostas de morros da mesma região e uma terceira na Serra de Soarinho, em Papucaia. Elas vão ser menores e mais altas, o que dificulta a evaporação da água. Além disso, vai ficar mais barato, pois só precisaria de um paredão. Na grande, além do paredão, muitos diques terão que ser construídos", explicou.

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) para a construção da barragem do Rio Guapiaçu está em fase de conclusão. O passo seguinte é a obtenção da licença junto ao Inea. A obra está prevista para começar no segundo semestre deste ano e deverá ser executada em 24 meses.

Em nota, a Secretaria de Estado do Ambiente informou que esta foi a primeira reunião para avaliar as questões levantadas pelos produtores rurais e os avanços no projeto de construção da Barragem Guapiaçu. "A nova gestão não medirá esforços para adequar os avanços necessários ao projeto, sem deixar de atender às necessidades dos produtores da região", destacou o órgão, na nota.

O ambientalista Sérgio Ricardo, ex-membro do Comitê de Bacia Hidrográfica da Baía da Guanabara, disse que a prioridade das políticas ambiental e de recursos hídricos deveria ser recuperar toda a bacia hidrográfica. "Isto triplicaria a oferta de água comparada com os níveis atuais. Não é a construção de uma barragem grande que aumentará a disponibilidade de água, e sim, a recuperação ambiental. Se barragem garantisse água, Cantareira e as represas do Paraíba do Sul estariam cheias e jamais teríamos a crise hídrica".

Ainda segundo ele, é criminosa a tentativa de remoção e despejo de número expressivo de trabalhadores da agricultura familiar que produzem grande volume de alimentos para abastecer as cidades. "Se a barragem grande sair do papel, haverá o aumento do preço dos alimentos em toda a Região Metropolitana Fluminense, além do desmatamento injustificável de 12 milhões de árvores da Mata Atlântica", frisou.

Para Sergio Ricardo, o governo do estado, por meio da SEA e da própria Cedae, deviam rever o planejamento para desmatar uma grande extensão da Mata Atlântica. "A grave crise hídrica tem demonstrado que a inexistência de cobertura florestal nas bacias hidrográficas contribuem decisivamente para a escassez de água", frisou.

Sérgio Ricardo defende a alternativa do aproveitamento dos três reservatórios da Cedae já existentes na região, que, de acordo com ele, estão abandonados há mais de 20 anos. "Este projeto alternativo, além de ser mais barato para os cofres públicos, tem o mérito de disponibilizar um volume maior de água para consumo humano e preserva milhares de postos de trabalho na agricultura.”

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