Rio - A notícia do fechamento da MaterialScience, uma das unidades da Bayer em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, pegou de surpresa o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas de Belford Roxo (Sindiquímica). É o que afirma o presidente da entidade, Roberto Carlos Carnavos, que tenta um acordo com a empresa para minimizar os impactos aos trabalhadores.
Segundo ele, a informação do grupo alemão era que o segmento de negócio seria vendido, o que afetaria mais de 16 mil trabalhadores em todo o mundo, mas que haveria uma transferência legal destes funcionários, sem risco de demissões. "Nos sentimos traídos. Fomos surpreendidos por esta informação. Rasgaram o código de ética da empresa que aprendi a respeitar. Desconsideraram um acordo", afirmou.
Carnavos diz que o sindicato negociava uma transição dos trabalhadores para uma nova empresa a ser constituída. "Não seria uma mudança radical. Ninguém seria demitido e não haveria ruptura de contrato. Seriam preservadas as conquistas históricas dos trabalhadores, com a garantia legal de respeito ao acordo coletivo", disse ele, que foi comunicado sobre a nova decisão na tarde da última sexta-feira (27).
Segundo ele, 460 trabalhadores - e não 320, como informou a empresa - podem ser atingidos pela desativação da fábrica. Este é o número total de empregados na unidade, sendo que 70% têm mais de 45 anos e possuíam mais de 18 anos de empresa. "Ficamos chateados, estávamos negociando em bom nível e os trabalhadores eram comunicados regularmente sobre as decisões", diz Carnavos.
Propostas para garantir salários
A fábrica - uma das três que o grupo alemão mantém em Belford Roxo - fechará as portas em julho. A proposta do sindicato é garantir os salários dos trabalhadores até março de 2016 e não somente até dezembro deste ano, como quer a empresa. "O segmento emprega 460 pessoas, sendo que 320 estão correndo risco de demissão. Eles consideram que 130 serão salvos imediatamente por atuarem em atividades importantes", disse o sindicalista.
Uma assembleia com funcionários está marcada para esta quinta-feira, às 17h, na sede do sindicato. "Vamos alinhar as informações, abrir um processo de negociação e postergar ao máximo as demissões e discutir um pacote social com garantias. Vamos propor que os funcionários criem uma comissão para fazer a interlocução com o sindicato", explicou o dirigente.
Crise econômica pode ter influenciado
Carnavos diz que a crise econômica no Brasil pode ser um dos motivos para a desativação da unidade da Bayer, mas que já havia intenção de vender o segmento, em nível internacional, o que atingiria 16 mil trabalhadores em todo o mundo. Uma fonte da empresa informou ontem ao DIA que o presidente da Bayer já havia declarado que a desistência em manter a unidade operando fora causada pelo "cenário econômico ambíguo no Brasil".
"Era uma estratégia de negício. O segmento já não apresentava resultados desde 2012 no país. Mas fechar foi uma mudança radical de rumo. O momento do país pode ter influenciado, mas não assim tão abruptamente", afirma o sindicalista. Para ele, a decisão de fechar e não mais passar o negócio deve ter sido tomada entre a segunda quinzena de dezembro e o final de fevereiro.
"Foi uma decisão abrupta, pegou todos de surpresa. Queremos um pacote social robusto, criterioso, para mitigar impacto para trabalhadores. Queremos postergar a estabilidade até março, para tentar salvar todo mundo. Vou ser duro no embate", garantiu.
Além da possibilidade de remanejamento para outras duas unidades de negócio que serão mantidas em Belford Roxo - a CropScience (agronegócio) e a HealthCare (saúde) - a empresa quer agilizar os processos de aposentadoria. "Tëm que ser criado um programa de demissão voluntária (PDV) para que as pessoas busquem esta possibilidade", comentou.
Para Carnavos, a economia de Belford Roxo será fortemente afetada. "O fechamento vai impactar a região, que é muito pobre e cresceu muito no entorno do parque industrial de Belford Roxo", disse ele, explicando que a unidade fabrica para-choque de automóveis, borrachas para geladeira, e outros produtos da chamada "linha branca". Muitos funcionários são moradores da região.