Por vinicius.amparo

São Gonçalo (RJ) - "Meu sonho é ir à praia. Quero entrar no mar e poder olhar para os lados sem que ninguém ria de mim. Não aguento mais tanto preconceito". O depoimento é de Fabiano Ormonde, 39 anos. Com 300 quilos distribuídos em 1.75 de altura, ele sofre de obesidade mórbida. Morador do Porto Novo, passou os três últimos anos sem sair de casa, até conhecer o Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), da Prefeitura de São Gonçalo. O projeto oferece atendimentos residenciais a pacientes acamados e com dificuldade de se locomover.

"Encontramos um paciente acamado, com a perna atrofiada, falta de ar e até com dificuldade para falar. Começamos a trabalhar com atendimentos de fisioterapia motora e respiratória, que foram essenciais na melhora do diagnóstico do paciente. Depois iniciamos o atendimento psicológico e nutricional, realizamos exames de rotina e percebemos uma melhora gradativa", explica o médico da equipe, Fernando Duarte.

Um ano após passar a receber os serviços, Fabiano precisou ir ao banco fazer a prova de vida para continuar recebendo os benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Essa foi a primeira vez que ele saiu de casa depois do tratamento. Ele precisou andar uma distância de um quilômetro da casa até o banco.

"Foi minha maior prova de superação. Fui devagar, parava, respirava do jeito que a fisioterapeuta me ensinou e cheguei até lá. A equipe do SAD trouxe a vontade de voltar a viver. Comecei a pedir para Deus colocar as pessoas certas na minha vida e ele me atendeu. Hoje eu sei que vale a pena viver", conta emocionado e completa dizendo que agora sai de casa quase todos os dias.

A obesidade mórbida é considerada um problema de saúde pública. Com origem genética, metabólica ou provocada por fatores psicológicos, vem sendo constatado o aumento da obesidade em todo o mundo nos últimos anos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem mais de 609 mil brasileiros com obesidade mórbida e Fabiano está entre eles.

Fabiano parou de estudar na 7°série, por conta do preconceito que sofria. Segundo ele, aos 15 anos pesava 120 kilos e não aguentou o bullying dos colegas de classe. Se escondeu do mundo e o problema só piorou. Hoje, ele busca emagrecer e recuperar o tempo perdido. "Sabe o que é você não ter mais expectativa de vida? As pessoas próximas de mim faziam tudo para me fazer feliz, mas eu estava me matando e levando eles junto comigo. Agora estou na fila de espera em busca de uma cirurgia bariátrica", conta Fabiano.

O SAD, implantado no município em agosto de 2013, tem a proposta de realizar o atendimento na residência do paciente e conta com equipes formadas por terapeutas, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, enfermeiros, médicos, dentistas, fisioterapeutas e fonoaudiólogos, de forma que o atendimento humanizado reorganize o cuidado domiciliar e reduza o período de permanência dos pacientes internados nas unidades hospitalares.

Em fevereiro deste ano o município de São Gonçalo comprou a primeira maca bariátrica do Estado. O equipamento atende os pacientes que sofrem com obesidade através do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), levando para emergências e consultas médicas. O atendimento já era feito na cidade, contudo, havia dificuldades para transportá-los para unidades de saúde.

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