Por felipe.martins

Rio - Prefeito em exercício de Itaguaí, Weslei Pereira (sem partido), 43 anos, assumiu o desafio de fazer uma ‘faxina’ na gestão de seu ex-aliado, Luciano Mota (PSDB), classificada como ‘organização criminosa’ pela Polícia Federal. Em menos de um mês, deu 127% de aumento para servidores, cortou quase mil cargos comissionados e 224 ‘fantasmas’ e quer reduzir a quase a metade o secretariado. Ameaçado, anda de carro blindado e cercado por seguranças.

O DIA: Como o senhor encontrou a prefeitura?

WESLEI: Havia 22 mil alunos sem aulas por dois meses e os servidores estavam em greve. Era uma situação calamitosa. Assumi com três sindicatos o compromisso de cumprir o Plano de Cargos, Carreira e Salários (PCCS) sancionado em dezembro pelo prefeito afastado. O dilema era cumprir essa lei municipal, sem infringir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Os servidores estavam 18 anos sem reajuste.

Quais foram as principais medidas no cargo?

Identificamos 2.453 contratados e procuramos corrigir algumas anomalias e adicionais de médicos sem critério ou mérito. Exoneramos 956 pessoas de cargos de confiança. Cortamos 224 que apareciam na folha de pagamento, mas não eram concursadas, nem contratadas. Não eram nem fantasmas, eram ‘encostos’.

Não fui eu quem fraudou as licitações. Não temos Porshe%2C Ferrari nem helicópteros’%2C diz prefeito em exercícioAndré Luiz Mello / Agência O Dia

E quais foram os primeiros resultados?

Com esses cortes, de janeiro a março economizamos R$ 3 milhões. Só na Secretaria de Administração foram menos R$ 1,5 milhão. Com isso, conseguimos pagar no último dia 24 o reajuste dos servidores previsto no PCCS, que ficou em média em 127%, sem onerar a folha, que se manteve em torno de R$ 25 milhões. São 115 mil habitantes na cidade e 9 mil servidores. Até o dia 15 vou enviar uma mensagem à Câmara propondo uma reforma administrativa. Vamos enxugar o número de secretarias de 22 para 12. Tem até secretaria de Relações Públicas e outra de Assuntos Extraordinários.
O senhor era vice de Luciano Mota. Como se deu seu rompimento?

Nossa lua-de-mel durou apenas os meses da campanha. No dia seguinte ao que fomos eleitos ele já não atendia mais os meus telefonemas. O rompimento definitivo, em março do ano passado, se deu por conta da minha desconfiança de haver desvios. Enviei 60 mil cartas às residências das pessoas, denunciando o que estava acontecendo. O prefeito circulando de helicóptero numa cidade pequena como a nossa era uma afronta à população, a maioria das classes C e D. Isso gerou muitos protestos.

O rompimento ajudou no afastamento dele?

Eu acho que ele (Luciano Mota) cavou o próprio buraco. Ele e o grupo que o cercava. Eles perderam completamente o rumo e o foco. Meu nome não aparece nas investigações da PF. Não fui eu quem fraudou licitações, nem botou a cidade no buraco. Eu e minha equipe não temos Porshe, Ferrari nem helicópteros.

A sua situação no cargo é definitiva?

Na semana que vem (dia 7 ou 8) a Comissão Processante instalada na Câmara vai votar a cassação do prefeito. Contra essa decisão não cabe liminar. A esperança é que, à luz dos fatos e das evidências, a Câmara resolva isso sem precisar de decisão de Justiça. Até o momento, oito dos 17 vereadores declararam que votarão a favor. Os outros nove ainda não se manifestaram. É inconcebível que ele retorne ao cargo de gestor do município.



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