Rio - O ano era 1850. O café fazia a riqueza de fazendeiros do interior do Rio, às custas da exploração do trabalho escravo. O Brasil era grande exportador do grão, cultivado em abundância nos campos do Médio Paraíba. De lá para cá, muita coisa mudou. Não restou mais um cafezal inteiro para contar história. Mas em diversas cidades da região, rebatizada de Vale do Café, a opulência das fazendas que sobreviveram ao tempo atrai outra importante atividade econômica: o turismo histórico, pedagógico e cultural.
As riquezas da região, porém, ainda são desconhecidas de muita gente. Pesquisa do Instituto Preservale mostrou que, de mil entrevistados, 70% não conhecem o Vale do Café, mas 60% deles têm interesse em visitá-lo e 25% reclamam da falta de divulgação. Para atrair ainda mais visitantes à região, o mês de julho, alta temporada nas fazendas e hotéis-fazenda, traz, pela pela 13ª vez, o Festival Vale do Café, quemovimenta nove cidades até dia 26, com concertos em 12 fazendas (ingressos a R$ 100) e gratuitos em casarões, igrejas e praças.
Um dos pontos altos da programação é a exposição Casa Real, uma espécie de ‘Casa Cor’ que recria toda a atmosfera de requinte e luxo da aristocracia rural do Brasil Imperial. Em sua terceira edição, a mostra de mobiliário e arte dos séculos 18 e 19 reúne arquitetos, decoradores e paisagistas que ocupam os cômodos da Fazenda São Luiz da Boa Sorte, em Vassouras, para ambientá-los ricamente, sem perder de vista os costumes da época.
São 800 peças, entre obras de arte, móveis, espelhos, cristais, utensílios de cozinha em ouro e prata, tapeçarias, porcelanas, esculturas e pinturas, cedidas por antiquários e colecionadores. A mostra tem entrada gratuita e conta com palestras sobre história, gastronomia, prataria, arquitetura, patrimônio e artes plásticas. Dona da fazenda, Liliana Rodriguez destaca o aspecto social da iniciativa. “Levamos cerca de 500 estudantes da rede pública de ensino a participar da visita guiada, pelas mãos de professores e monitores”. O evento também gera empregos temporários para profissionais da educação, teatro, turismo, culinária, limpeza e segurança.
Em paralelo ao festival, a cidade de Vassouras promove atividades como a Caravana Gastronômica, com chefs servindo em barraquinhas e food trucks na antiga estação de trem. Já fazendas como a Santa Eufrásia, única tombada pelo Iphan, promove um piquenique com quitutes de época e partidas de peteca, frescobol e croquet.
Até Dom Pedro II foi convidado
Dois personagens ilustres da história do Brasil Imperial prometem encantar o público durante o Festival Vale do Café. Duas esculturas em tamanho natural do Imperador Dom Pedro ll e da Imperatriz Tereza Christina serão a atração deste ano na Fazenda Florença, em Conservatória, distrito de Valença. Elas têm os rostos e as mãos em silicone, implante de cabelo natural e as roupas são em tecido.
“Este trabalho é muito semelhante às esculturas do famoso artista australiano Ron Mueck, que estiveram em exposição no MAM no Rio e na Pinacoteca de São Paulo no ano passado com recorde de público”, explica Paulo Roberto dos Santos, proprietário da fazenda.
As esculturas vão estrelar o ‘Sarau Imperial Dom Pedro II’, uma peça teatral, histórica e musical em homenagem aos 190 anos do imperador, O evento, gratuito, no próximo dia 24, vai remeter a plateia ao dia 22 de novembro de 1883. Nesta data, o povo da Freguezia de Santo Antônio do Rio Bonito (atual Conservatória) se preparava para inaugurar a estação ferroviária entre a cidade e Barra do Piraí e receber a visita do imperador.
“Foi um dia muito importante na história da região, quando a população fez uma grande festa para D. Pedro II e sua comitiva”, conta Paulo Roberto dos Santos.
A programação inclui visita guiada pelo casarão do século 19, petiscos das mesas da aristocracia e performance da pianista Délia Fischer. O casal poderá ser fotografado por uma pessoa caracterizada e com uma câmera fotográfica de madeira da época.