Por felipe.martins

Rio - No país em que a crise econômica assombra por todos os lados, Nova Friburgo, na Região Serrana, faz os problemas financeiros virarem sinônimo de incentivo à criatividade. O município que abriga o maior polo de moda íntima do Brasil e, a partir do próximo domingo, passará a ser palco da 25ª edição da feira de negócios do mesmo setor, é pioneiro quando o assunto é superação. Para conseguir atrair mais clientes e, assim, aumentar a produção, tem fábrica de lingerie apostando em novidades que vão desde tecido biodegradável, que demora apenas três anos para decomposição, até cueca para colorir.

Para vender, vale tudo. Até mesmo atravessar o oceano. Na fábrica especializada em peças íntimas sensuais, 40% da produção é vendida para fora do país. “Nossos principais clientes internacionais estão nos Estados Unidos e na Alemanha. O mais curioso é que eles exigem a mesma peça comercializada no Brasil, com modelos bem ousados”, explicou o gerente de vendas da Sensualle, Eric Gouveia Aguiar. Na cartela extensa de clientes da fábrica, também estão Grécia, Austrália, Reino Unido e França.

Inspirada nos livros para colorir%2C a Suspiro Íntimo lançará a cueca para pintar%2C que pode ser lavada normalmenteDivulgação

Outra pioneira em exportação é a De Chelles, conhecida pela fabricação de lingerie de luxo. O Japão é o mais novo consumidor da marca. “Vimos um novo tipo de mercado que se abriu e a oportunidade de crescer ainda mais por conta da alta do dólar”, declara o dono da empresa, Paulo Chelles.

Com 25 anos de idade, a Suspiro Íntimo não economiza no quesito criatividade. De olho nas tendências do mercado, a fábrica friburguense se prepara para lançar uma cueca inspirada em livros para colorir. “Foram muitos testes até chegar à peça ideal. Apostamos que essa cueca vai cair no gosto dos homens e, principalmente, das mulheres”, aponta Paloma Loretti, estilista da fábrica. A peça, que pode ser lavada normalmente, será vendida junto com três canetas próprias para tecido. O produto é uma das novidades guardadas para a Feira de Moda Íntima, Praia, Fitness e Matéria-Prima (Fevest), que começa no domingo e vai até terça-feira.

Outra grande aposta da Suspiro para driblar a crise é o investimento no ramo de e-commerce—venda pela internet. Desde o início do ano, a empresa tem feito contenção de despesa, até com demissões de funcionários, mas o comércio digital trouxe novos rumos aos negócios. “Conseguimos atingir clientes até do Nordeste, onde nunca pensamos em vender”, contou o presidente da fábrica, Carlos Eduardo de Lima.

A parceria com as blogueiras de moda também serviu de incentivo nas vendas. “Passamos a fechar contrato com algumas blogueiras locais que divulgam nossos produtos na internet. Sempre quando sai uma nova peça usada por elas, a procura é imensa”, acrescenta a estilista Paloma.

O conceito de sustentabilidade também pegou carona na fase inovadora das fábricas de Friburgo e adjacências. Em Bom Jardim, a grande sensação é o tecido biodegradável, que será utilizado na nova linha de roupas para dormir da confecção Monthal. Chamado de Soul Eco, o material demora apenas três anos para entrar em decomposição, ao contrário do fio de poliamida, que é o mais utilizado nestas peças e leva até 100 anos para desaparecer na natureza.

As peças íntimas mais ousadas da fábrica Sensualle também são comercializadas internacionalmenteDivulgação

“Mais do que vender, queremos conscientizar os nossos clientes da importância de consumir um produto que também vai contribuir para a sustentabilidade”, afirmou a proprietária da Monthal, Eleonora Erthal. A fábrica é a segunda do Brasil a adquirir o novo tecido. “Foram três anos de estudo para conseguir chegar nesse resultado final”, completa.

Chuvas foram incentivo

A experiência para enfrentar a crise econômica atual vem de quatro anos atrás. Após as fortes chuvas que devastaram Nova Friburgo e municípios vizinhos, em 2011, muitas fábricas foram obrigadas a superar perdas para não fechar as portas.

Dona da confecção Molambo%2C Patrícia Schuabb adquiriu experiência em superação de crise com as chuvas de 2011Severino Silva / Agência O Dia

“Tivemos muito prejuízo, mas costumo dizer que a enchente trouxe um lado positivo porque passamos a trabalhar em união com as outras fábricas”, conta Patrícia Schuabb, dona da Molambo que, ao lado de outras 1.323 confecções, forma o Polo de Moda Íntima de Friburgo e Região.

Na época, Patrícia tinha um galpão alugado e só conseguiu um imóvel próprio depois que perdeu tudo nas chuvas. “Foi muita superação. Saímos de algo muito ruim para o muito bom”, acrescenta.

A equipe viajou a convite da organização da Fevest 2015

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