Rio - No país em que a crise econômica assombra por todos os lados, Nova Friburgo, na Região Serrana, faz os problemas financeiros virarem sinônimo de incentivo à criatividade. O município que abriga o maior polo de moda íntima do Brasil e, a partir do próximo domingo, passará a ser palco da 25ª edição da feira de negócios do mesmo setor, é pioneiro quando o assunto é superação. Para conseguir atrair mais clientes e, assim, aumentar a produção, tem fábrica de lingerie apostando em novidades que vão desde tecido biodegradável, que demora apenas três anos para decomposição, até cueca para colorir.
Para vender, vale tudo. Até mesmo atravessar o oceano. Na fábrica especializada em peças íntimas sensuais, 40% da produção é vendida para fora do país. “Nossos principais clientes internacionais estão nos Estados Unidos e na Alemanha. O mais curioso é que eles exigem a mesma peça comercializada no Brasil, com modelos bem ousados”, explicou o gerente de vendas da Sensualle, Eric Gouveia Aguiar. Na cartela extensa de clientes da fábrica, também estão Grécia, Austrália, Reino Unido e França.
Outra pioneira em exportação é a De Chelles, conhecida pela fabricação de lingerie de luxo. O Japão é o mais novo consumidor da marca. “Vimos um novo tipo de mercado que se abriu e a oportunidade de crescer ainda mais por conta da alta do dólar”, declara o dono da empresa, Paulo Chelles.
Com 25 anos de idade, a Suspiro Íntimo não economiza no quesito criatividade. De olho nas tendências do mercado, a fábrica friburguense se prepara para lançar uma cueca inspirada em livros para colorir. “Foram muitos testes até chegar à peça ideal. Apostamos que essa cueca vai cair no gosto dos homens e, principalmente, das mulheres”, aponta Paloma Loretti, estilista da fábrica. A peça, que pode ser lavada normalmente, será vendida junto com três canetas próprias para tecido. O produto é uma das novidades guardadas para a Feira de Moda Íntima, Praia, Fitness e Matéria-Prima (Fevest), que começa no domingo e vai até terça-feira.
Outra grande aposta da Suspiro para driblar a crise é o investimento no ramo de e-commerce—venda pela internet. Desde o início do ano, a empresa tem feito contenção de despesa, até com demissões de funcionários, mas o comércio digital trouxe novos rumos aos negócios. “Conseguimos atingir clientes até do Nordeste, onde nunca pensamos em vender”, contou o presidente da fábrica, Carlos Eduardo de Lima.
A parceria com as blogueiras de moda também serviu de incentivo nas vendas. “Passamos a fechar contrato com algumas blogueiras locais que divulgam nossos produtos na internet. Sempre quando sai uma nova peça usada por elas, a procura é imensa”, acrescenta a estilista Paloma.
O conceito de sustentabilidade também pegou carona na fase inovadora das fábricas de Friburgo e adjacências. Em Bom Jardim, a grande sensação é o tecido biodegradável, que será utilizado na nova linha de roupas para dormir da confecção Monthal. Chamado de Soul Eco, o material demora apenas três anos para entrar em decomposição, ao contrário do fio de poliamida, que é o mais utilizado nestas peças e leva até 100 anos para desaparecer na natureza.
“Mais do que vender, queremos conscientizar os nossos clientes da importância de consumir um produto que também vai contribuir para a sustentabilidade”, afirmou a proprietária da Monthal, Eleonora Erthal. A fábrica é a segunda do Brasil a adquirir o novo tecido. “Foram três anos de estudo para conseguir chegar nesse resultado final”, completa.
Chuvas foram incentivo
A experiência para enfrentar a crise econômica atual vem de quatro anos atrás. Após as fortes chuvas que devastaram Nova Friburgo e municípios vizinhos, em 2011, muitas fábricas foram obrigadas a superar perdas para não fechar as portas.
“Tivemos muito prejuízo, mas costumo dizer que a enchente trouxe um lado positivo porque passamos a trabalhar em união com as outras fábricas”, conta Patrícia Schuabb, dona da Molambo que, ao lado de outras 1.323 confecções, forma o Polo de Moda Íntima de Friburgo e Região.
Na época, Patrícia tinha um galpão alugado e só conseguiu um imóvel próprio depois que perdeu tudo nas chuvas. “Foi muita superação. Saímos de algo muito ruim para o muito bom”, acrescenta.
A equipe viajou a convite da organização da Fevest 2015