Por paloma.savedra

Rio - Um problema ainda sem solução. Apesar da manifestação que reuniu cerca de seis mil pessoas — segundo os organizadores — no Centro do Rio, na tarde desta segunda-feira, prefeitos de 13 municípios que integram o Conleste (Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento do Leste Fluminense) saíram de mãos abanando de uma reunião com gerentes da Petrobras.

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Eles queriam ouvir do presidente da empresa, Aldemir Bendine, alguma garantia da conclusão, ao menos, de uma das refinarias do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj. Mas saíram sem nem conseguir falar com Bendine.

Protesto da Comperj interditou acesso à Ponte Rio-Niterói. Grupo ateou fogo em pneus na Ponte Rio-Niterói e na Avenida Brasil%2C perto do IntoSeverino Silva / Agência O Dia

“Não fomos recebimos pelo presidente. Não estamos aqui brincando. São milhares de trabalhadores desempregados. Esperamos ser atendidos daqui a 30 dias, senão, iremos à Brasília falar com a presidenta Dilma pessoalmente”, disse Helil Cardozo (PMDB), presidente do Conleste e prefeito de Itaboraí.

Um destes desempregados, o soldador Marcelo Carvalho, de 35 anos, fez questão de sair de São Gonçalo para ir ao Centro do Rio protestar, na intenção de reaver seu emprego em breve. “Se tinha ou tem alguém roubando a Petrobras, essa gente tem que ser presa, claro. Mas o trabalhador não pode ser prejudicado”, cobrou.

De acordo com o Conleste, atualmente há apenas cerca de 5 mil trabalhadores em atividade nas obras do Comperj, número que há poucos anos chegava a 32 mil. Em nota ao DIA, a Petrobras garantiu que este número chega 11.900 trabalhadores, em 21 grandes contratos de construção e montagem. A companhia garantiu, ainda, que as obras não estão paralisadas e que “está estruturando um modelo de negócios”, que inclui parcerias para a conclusão da refinaria.

“É muita enrolação. Eu perdi emprego e desde o ano passado a gente só escuta promessa. A obra está quase pronta. Falta apenas vontade política”, disse o montador Rodrigo Lopes.

O prefeito de Itaboraí afirma ter enviado ao presidente da Petrobras uma carta de intenções de um grupo sulcoreano interessado em finalizar as obras do Comperj, que estariam 82% prontas. Na reunião com os gerentes do Comperj na sede da Petrobras, Flávio Fernando Casanova e Walter Shimura, foi dito que outros dois grupos estão interessados em concluir a obra.

“A gente não está interessado em quem vai fazer a obra. Para o trabalhador, tanto faz. Queremos é que recomecem logo, que o Comperj volte a funcionar e os empregos voltem a ser gerados”, pediu Cardozo.

Também participaram da reunião os prefeitos de Niterói e Saquarema, Rodrigo Neves e Franciane Motta. Ao todo, 120 ônibus trouxeram manifestantes. A PM não estimou o número de pessoas que participaram do ato.

Pezão participou de reunião com prefeitos ontem à tarde em MacaéFlávio Sardou / Divulgação

Pezão pede união contra a crise

Enquanto prefeitos de 13 cidades da região protestavam no Centro do Rio, o governador Luiz Fernando Pezão se reunia em Macaé com prefeitos das regiões Norte Fluminense e Lagos para discutir alternativas para a crise. Durante o 1º Fórum de Valorização dos Municípios Fluminenses, ele falou sobre a luta pela refinaria do Comperj.

“Tudo o que está ao nosso alcance, estamos fazendo. Estamos tentando ajudar os prefeitos. Nos colocamos à disposição de todos. É um momento difícil e que só vamos superar com união”, disse Pezão.

No evento, o prefeito de Macaé, Dr. Aluízio, também presidente da Organização dos Municípios Produtores de Petróleo (Ompetro), defendeu a antecipação das receitas de royalties, prevista em nova resolução do Senado, como medida fundamental para que os municípios possam vencer a crise imposta pela queda do preço do barril de petróleo.

O tema também será levado a audiência com conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Em Campos, onde a prefeitura pretende tomar R$ 1 bilhão em empréstimos contando com royalties que receberá nos próximos 20 anos, um movimento já recolheu mais de 12 mil assinaturas contrárias à operação.

Demitidos de estaleiro em Niterói cobram volta dos investimentos

Desempregados do setor naval em Niterói também engrossaram o coro dos protestos. Ex-funcionário do estaleiro Mauá e morador de São Gonçalo, Alex Carvalho, 23 anos, provou uma quentinha de arroz, feijão, farofa e calabresa levada pelo Sindicato da Indústria Naval e distribuída em meio à multidão. “Tenho família para sustentar e estou há três meses sem receber. Nem rescisão recebemos. Estou praticamente passando fome. O que tem me salvado é a minha família, nessas horas mais difíceis. Preciso muito trabalhar”, afirmou Alex.

A redução nos investimentos da Petrobras no setor naval, que obrigou o estaleiro Mauá a fechar as portas, foi lembrada pelo prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PT). “Niterói é o berço da indústria naval brasileira está aqui em solidariedade aos demais municípios, sobretudo São Gongalo e Itaboraí”, disse.

O prefeito lembrou que 95% das empresas da região não tiveram nenhuma ligação com corrupção e estão habilitadas a prestar serviços à Petrobras. E que estes serviços precisam ser retomados com urgência para não prejudicar os trabalhadores e a economia dos municípios.

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