Rio - O desespero ainda faz parte da vida dos atingidos pela tragédia do temporal que matou 918 pessoas, sumiu com outras 103, devastou e mudou o mapa da Região Serrana em janeiro de 2011. Às vésperas de completar cinco anos da maior catástrofe climática do país, moradores de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo se queixam de descaso e da “forma equivocada” de aplicação de recursos públicos. A Justiça, por sua vez, embargou reformas em quatro condomínios, com dinheiro que poderia ser usado na construção de casas populares, conforme ação popular proposta pelo ex-vereador Paulo Pires. O número de casas para vítimas construídas pelos governos federal, estadual e municipais é irrisório: 3.987, contra um déficit de 35 mil unidades.
No dia 16 de novembro, o juiz da 4ª Vara Cível de Petrópolis, Jorge Luiz Martins Alves, embargou reformas da Secretaria de Estado de Habitação em quatro conjuntos. Construídos há 40 anos pelo então Banco Nacional da Habitação, no Grão Pará, Bernardo Proença, São Sebastião e Chácara Flora moram 20 mil pessoas. Quitados, os imóveis são considerados de classe média. Através do projeto ‘De Cara Nova’, o secretário Bernardo Rossi, que é de Petrópolis, onde já foi candidato a prefeito, liberou R$ 10,7 milhões, do Fundo Estadual de Combate à Pobreza e Desigualdades Sociais, para obras em áreas comuns dos condomínios, como fachadas e telhados. O programa já tinha reformado, por R$ 17,6 milhões, o Dr. Thouzet, Mosela, Coronel Veiga e Quitandinha.
Em Petrópolis, apenas 50 casas foram erguidas. Em Teresópolis 1,6 mil, e em Friburgo, 2.337. Menos de 400 foram entregues. Pontes e viadutos não saem do papel. “Na Região Serrana, foram feitas só transferências de recursos, da ordem de R$ 2,2 bilhões, da União e estado para a iniciativa privada. Constroem apartamentos minúsculos, de 45 metros quadrados, em locais isolados, sem transporte, sem redes de água, saúde e educação, sem comércio, sem o mínimo de condições de cidadania e dignidade”, lamenta Francine Pinheiro, advogada do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos, doutora em Ciências Sociais e especialista em desastres naturais. “A tragédia, que isola e humilha cada vez mais os pobres, virou um negócio para meia dúzia de empreiteiros”, completa frei Marcelo Toyanski, da Associação das Vítimas de Teresópolis (Avit).
Tragédia eternizada no corpo
A chegada das chuvas de verão agrava o estado de saúde da costureira Renata Pereira, 32. Afastada do trabalho por depressão, ela é uma das duas mil vítimas que vivem de aluguel social na Região Serrana. Sua casa foi uma das 1,5 mil destruídas por deslizamentos e enchentes em Petrópolis. “Já morei até em abrigo. Hoje, recebo R$ 500 e pago R$ 800 numa casa que o reboco do teto está caindo”.