opina21fevARTE KIKO

O Carnaval se aproxima e com ele temos a oportunidade de refletir sobre os problemas da atualidade e assuntos cotidianos. Isso porque muitos blocos de rua e escolas de samba escolhem enredos com críticas sociais sobre os mais diversos temas. Não é à toa que Caetano Veloso já dizia, em letra de 1993 que virou um clássico na voz de Gilberto Gil: “O samba é o filho da dor
O grande poder transformador. A tristeza é senhora. Desde que o samba é samba é assim”...

Alguns sambas-enredos se eternizaram nas nossas lembranças, com visões críticas sobre temas como abolição da escravatura, fome, miséria, desigualdade social, racismo... e nos dias de hoje, cada vez mais escolas optam por evidenciar as questões sociais do país.

Neste ano de 2023, vão ecoar na Avenida gritos de liberdade em alusão a um novo momento político: o fim de era Bolsonaro. Uma virada de página de um triste período da nossa história. Espera-se a ‘apoteose’ de um povo que começa a recuperar a própria dignidade.

O Salgueiro, do grupo especial das agremiações do Rio de Janeiro, promete levantar a arquibancada com o samba “Delírios de um paraíso vermelho”. Olhem a potência de um trecho da letra:

“No meu sonho de rei, quero tempo de paz
Guerra, fome e mazelas nunca mais
A minha Academia anuncia
Da escuridão, raiou o dia...

Bendita redenção
Os excluídos libertando suas dores
Embarque pro renascer dos seus valores
Basta de violência e opressão
Chega de intolerância
A luz da eternidade acende a chama
Festejando a igualdade
Que a felicidade emana.”

Já a Beija-flor de Nilópolis, outra grande escola do grupo especial, jogará seus holofotes na ‘Brava Gente’ brasileira, ao mostrar o grito dos excluídos no Bicentenário da Independência. Também destaco uma parte interessante da letra:

“É! Vim cobrar igualdade
Quero liberdade de expressão
É a rua pela vida, é a vida do irmão
Baixada em ato de rebelião...

Desfila o chumbo da autocracia
A demagogia em setembro a marchar
Aos ‘renegados’ barriga vazia
Progresso agracia quem tem pra bancar
Ordem é o mito do descaso
Que desconheço desde os tempos de Cabral
A lida, um canto, o direito
Por aqui o preconceito tem conceito estrutural
Pela mátria soberana, eis o povo no poder
São Marias e Joanas, os brasis que eu quero ter”.

Que o Carnaval continue sendo essa festa inspiradora e o samba jamais perca seu poder de resistência e de ser a identidade de um povo.
*Isa Colli é escritora e jornalista