Espaço será entregue aos advogados campistas nesta sexta-feira (16), com presença do presidente da OAB-RJ, Luciano Bandeira.Bruno Mirandella.
Inicialmente, as brigas teriam levado à morte de Bruno Macedo dos Santos. Posteriormente, as autoridades já admitiram que o assassinato teria sido motivado pela "guerra do tráfico", sem qualquer tipo de relação com futebol. Uma confusão só que não ajuda em nada a encontrarmos uma resposta para o problema.
A violência no futebol é uma chaga não só da nossa sociedade, mas de boa parte dos países onde o velho esporte bretão tem altos índices de popularidade. A solução está longe de ser fácil, mas é preciso que o remédio não seja mais forte que a doença. E a desinformação, neste caso, atua como combustível num incêndio que precisa de extintores, não de gasolina.
As principais torcidas organizadas foram fundadas no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970. E criou-se o mito de que, com elas, a violência nos estádios explodiu. Está longe de ser verdade. Coisas de mito.
A literatura sobre o tema é farta. O escritor Roberto Assaf, um dos maiores pesquisadores do futebol carioca, quiçá o maior, lembra que na primeira década do século passado, quando o futebol ainda engatinhava na cidade, as brigas eram generalizadas envolvendo todos os que estavam no evento. Inclusive atletas.
Já na década de 1910, o escritor e jornalista Mário Filho conta em seu clássico "Negro no Futebol Brasileiro" que as partidas envolvendo os clubes da Zona Sul (Flamengo, Fluminense e Botafogo) contra o Bangu, em Moça Bonita, começavam e terminavam em brigas fraticidas que duravam horas, da Central do Brasil à Estação Guilherme da Silveira. Atletas e torcedores cruzavam a cidade de trem, com paus, pedras, garrafas, punhais e tudo o que pudesse estar ao alcance das mãos.
O primeiro clássico entre Flamengo e Vasco, que em 2023 completará 100 anos, foi realizado nas Laranjeiras e terminou em pancadaria generalizada com dezenas de feridos. Numa cidade que tinha pouco mais de um milhão de habitantes, bem menos do que os quase sete milhões de hoje.
Portanto, relacionar a violência apenas às torcidas organizadas, mais do que qualquer juízo de valor equivocado, trata-se de uma incorreção histórica, uma inverdade que não encontra acolhida nos fatos. A violência no futebol precisa ser combatida com a seriedade que merece por todos nós. Sensacionalismo, demagogia e desinformação não serão úteis nesta luta que não é fácil de ser enfrentada.
A punição deve ser exemplar, mas àqueles que efetivamente promovem os atos de violência. A proibição da entrada de bandeiras, faixas, instrumentos de percussão torna o evento menos atraente, mas não menos violento. E o que todos queremos é o fim da violência, não o da alegria.
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