Everton Gomes. Cientista político e secretário Municipal de Trabalho e Renda do RioDivulgação

Ao caminhar pela cidade, é impossível não se sensibilizar com o drama de milhares de pessoas que vivem nas ruas – um problema, claro, que não é exclusivo do Rio. Um em cada 80 moradores de Nova Iorque não tem onde morar, segundo a prefeitura da cidade norte-americana. Lá, são mais de cem mil albergados em abrigos, hotéis e acampamentos durante o inverno no Hemisfério Norte. E por que essa tragédia atinge cidades tão distintas? Não há dúvida de que parte dela é resultado da falência de um modelo econômico que privilegia o capital especulativo em detrimento do produtivo, desindustrializa e escasseia as oportunidades.

Para enfrentar esse flagelo que hoje atinge 7,8 mil pessoas na capital, a Prefeitura do Rio lançou, na semana do Natal, o programa "Seguir em Frente". São diversas iniciativas no campo da saúde e da assistência social, como a implantação de um prontuário único de saúde e assistência social e a criação do PAR Carioca (Ponto de Apoio na Rua), no Centro, e da RUA Sonho Meu (Residência e Unidade de Acolhimento), integrada com o novo CAPSad III Dona Ivone Lara, em Cascadura, com funcionamento 24 horas.

De uma forma multidisciplinar, busca-se levar dignidade a essa parcela da população. Cidadania é o foco, buscando não apenas socorrer as necessidades imediatas, mas garantir condições para que essas pessoas ascendam e consigam extrair sustento do próprio trabalho. Hoje, grande parte das pessoas em situação de rua trabalham, mas não conseguem ganhar o suficiente para obter o mínimo necessário para elas e suas famílias. A ONG Médicos sem Fronteiras, em um levantamento detalhado sobre seus beneficiários, apontou que, de 599 pessoas em situação de rua, 1% eram pedintes e 1,5% já praticaram roubos e furtos. De resto, eram trabalhadores, especialmente em atividades como a reciclagem e em serviços informais prestados ao comércio de rua.

E o mesmo censo da população em situação de rua, realizado em 2022 pela Secretaria Municipal de Assistência Social, revelou também que 41% depositam suas esperanças na conquista de um emprego para deixar as calçadas da cidade. Portanto, é preciso inserir esses trabalhadores no mercado formal, garantindo a eles direitos trabalhistas e previdenciários. Por isso, em 2024, vamos redobrar nossos esforços para levar a esses cidadãos os programas Rio+Cursos, de qualificação profissional, e Trabalha Rio, de intermediação de mão de obra em empresas parceiras. Também faremos ações integradas voltadas a frentes de trabalho nas quais possa acontecer a inclusão produtiva das pessoas em situação de rua em tarefas de zeladoria urbana, com remuneração justa. Acreditamos que junto com as secretarias de Saúde e Assistência Social podemos devolver a estes trabalhadores a dignidade e a esperança perdidas nas ruas do Rio.

Everton Gomes
Cientista político e secretário Municipal de Trabalho e Renda do Rio