Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública divulgação

As declarações do Prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), afirmando que o crime organizado está extorquindo uma empreiteira responsável pelas obras do Parque Piedade, que está sendo construído na Zona Norte da cidade, surpreende de um lado, mas por outro em nada traz novidade. O avanço do narcotráfico em vários segmentos da sociedade e, particularmente, em todo o canto do Rio de Janeiro é notório, perigoso e sem uma repressão à altura de sua ousadia.
A declaração vinda de uma autoridade, admitindo esse desatino, é novidade e acende não a luz amarela, mas a luz vermelha, estando claro que a criminalidade está ultrapassando todos os limites, fincando um poder paralelo que não só ameaça, mas intimida e acua o poder constituído. E este, tem que, o quanto antes, responder de forma enérgica, deixando claro que vivemos numa sociedade com leis, autoridades e polícias para a garantia da ordem. Ter conhecimento disso sem que nada seja feito é assustador, além de gerar extrema frustração e insegurança para milhões de cidadãos que pagam seus impostos e contam com as garantias constitucionais.
Essa inércia ou, no mínimo, lentidão em reagir é que tornou o Rio um campo fértil para o poder paralelo que ocupa o vácuo deixado pelo Estado. Essa movimentação já vem de décadas, na qual poderes não oficiais passam a oferecer “suposta” garantia de serviços e proteção ao cidadão e/ou determinada comunidade ou região desassistida pelo Estado. Assim, milhares de famílias vivem na dependência de uma cobrança de internet, gás e tantas outras taxas impostas de forma violenta. Quem não aceita é punido, muitas vezes com a própria vida.
Esse cidadão acaba sendo prejudicado duas vezes, ou seja, sente na pele a falta dos serviços do Estado e, também, a tensão de indivíduos que visam o lucro financeiro e pregam o terror sob o argumento de oferecer qualidade de vida.
A Segurança pública está perdendo espaço no Rio, pois onde falta o Estado vem alguém e ocupa. Essa ausência engloba não só a segurança, mas a oferta de educação de qualidade, saúde e assistência social como um todo, sendo uma porta de entrada para as facções criminosas.
Praticamente a Cidade Maravilhosa, hoje, está loteada por facções criminosas e se não acontecer um combate efetivo e de forma integrada, com união, estado e município, nos tornaremos um Equador, país que está imerso em um “estado de guerra”, no qual o poder do narcotráfico impôs um clima de pânico e violência.
*Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública