Átila Nunes é deputado estadual pelo Rio de JaneiroDivulgação
O populismo, que promete quase literalmente lotes no céu em troca de votos, usa preferencialmente os eleitores miseráveis, que não têm onde morar. Essa é a prática recorrente nas grandes capitais brasileiras: a busca de votos através do estímulo às invasões de áreas públicas e particulares.
Uma das formas de se medir a estatura moral de um agente público é pelos vários diminutivos que ele emprega com os cidadãos vulneráveis: "Vou pedir para botar uma biquinha d'água, jogar um asfaltinho e instalar uns pontinhos de luz". Tudo isso, é claro, em troca de uns "votinhos".
Como se sabe, a Lei da Gravidade não é federal, nem estadual e muito menos municipal (embora um prefeito já tenha desejado revogá-la). Ela pertence a uma das ciências exatas, a Física. Não há como impedir que moradias construídas sem fundações adequadas venham a ruir sob toneladas de lama e pedras.
Não há como dar certo 'comunidades' construídas sobre pântanos (turfas) e lixo (vide Morro do Bumba), transformadas num amontoado de construções sem arruamento, sem galerias pluviais e sem esgoto. Qualquer estagiário de Engenharia sabe que é criminoso "jogar um asfalto" em cima de uma rua de terra sem essa infraestrutura mínima.
Com exceção da Prefeitura do Rio de Janeiro, que enfrenta grupos criminosos que estimulam (e lucram) com essas invasões, a maioria das administrações faz vista em troca dos tais "votinhos". Ao longo das décadas, em vez de se usar a autoridade do cargo para conter novas invasões, incentivou-se a política do paternalismo à base de esmolas governamentais, característica maior do infame populismo que tanto mal fez às cidades brasileiras.
Pior: políticos recusam-se a tocar nesse assunto, considerado um tabu, mesmo sabendo que o silêncio vai resultar em mais mortes. Quando assistimos na TV o resgate de crianças, vítimas dos desabamentos, sempre tem alguém que exclama: "Puxa, que fatalidade!".
Átila Nunes
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