Átila Nunes é deputado estadual pelo Rio de JaneiroDivulgação

O populismo é uma praga, praga que engana e que mata.

O populismo, que promete quase literalmente lotes no céu em troca de votos, usa preferencialmente os eleitores miseráveis, que não têm onde morar. Essa é a prática recorrente nas grandes capitais brasileiras: a busca de votos através do estímulo às invasões de áreas públicas e particulares.
Foi nos anos 80, quando multidões eram estimuladas a invadir terrenos no RJ, terrenos que mais tarde eram cinicamente denominados de bairros pelos mesmos políticos que apadrinhavam essas invasões.
Arrastados pela conversa fácil e pela oportunidade de ter seu "cantinho", chefes de família e donas de casa eram convidados a invadir áreas, em troca da garantia de votos nas urnas para os candidatos que montavam o esquema de invasão.
Iniciado o processo de ocupação urbana desenfreada, surgiu um outro tipo de escambo. Se antes trocavam votos pela oportunidade da invasão, passou-se a trocar votos pela garantia da não remoção, mesmo que fosse uma área de risco, mesmo que se tivesse a certeza de que, ao sinal da primeira chuva forte, gente inocente iria morrer.
O esquema de escambo eleitoral aprimorou-se com o tempo. Depois da primeira fase (a da invasão e distribuição de lotes sem qualquer infraestrutura), a segunda fase garantia a colocação de "pontinhos" de luz, "biquinhas" d’água e um "asfaltinho", tudo visando manter aquele latifúndio eleitoral.

Uma das formas de se medir a estatura moral de um agente público é pelos vários diminutivos que ele emprega com os cidadãos vulneráveis: "Vou pedir para botar uma biquinha d'água, jogar um asfaltinho e instalar uns pontinhos de luz". Tudo isso, é claro, em troca de uns "votinhos".

Como se sabe, a Lei da Gravidade não é federal, nem estadual e muito menos municipal (embora um prefeito já tenha desejado revogá-la). Ela pertence a uma das ciências exatas, a Física. Não há como impedir que moradias construídas sem fundações adequadas venham a ruir sob toneladas de lama e pedras.

Não há como dar certo 'comunidades' construídas sobre pântanos (turfas) e lixo (vide Morro do Bumba), transformadas num amontoado de construções sem arruamento, sem galerias pluviais e sem esgoto. Qualquer estagiário de Engenharia sabe que é criminoso "jogar um asfalto" em cima de uma rua de terra sem essa infraestrutura mínima.

Com exceção da Prefeitura do Rio de Janeiro, que enfrenta grupos criminosos que estimulam (e lucram) com essas invasões, a maioria das administrações faz vista em troca dos tais "votinhos". Ao longo das décadas, em vez de se usar a autoridade do cargo para conter novas invasões, incentivou-se a política do paternalismo à base de esmolas governamentais, característica maior do infame populismo que tanto mal fez às cidades brasileiras.
Depois da redemocratização, muitos prefeitos e governadores deixaram de usar a autoridade que o cargo lhes garantia. Acovardaram-se diante da desordem urbana, diante das invasões desenfreadas que afrontam a lei. Deixaram de usar a autoridade por medo do enfrentamento contra os 'grileiros', substituídos agora por milicianos e traficantes.

Pior: políticos recusam-se a tocar nesse assunto, considerado um tabu, mesmo sabendo que o silêncio vai resultar em mais mortes. Quando assistimos na TV o resgate de crianças, vítimas dos desabamentos, sempre tem alguém que exclama: "Puxa, que fatalidade!".
Fatalidade, neste caso, é sinônimo de cinismo. Cinismo, aliás, rima com populismo.

Átila Nunes
Deputado estadual pelo Rio de Janeiro