Júlio Furtado é professor e escritorLindsay Romariz / divulgação

Sempre atualizo minha pesquisa a respeito da ideia de como seria, na opinião de gestores escolares e de coordenadores pedagógicos, o perfil dos melhores professores de suas escolas. Peço para que me definam, em poucas palavras, as principais características desses melhores professores e, geralmente, ouço descrições como: não faltam, não chegam atrasado, planejam as aulas, cumprem os prazos e dão atenção aos alunos. Numa amostra que já ultrapassou mil entrevistados, essas características são citadas como principais por mais de oitenta por cento.
Ao ler esse resultado, sempre me pergunto quais são os deveres de todo professor e, irrefutavelmente, me vem à mente toda a relação apresentada. Não faltar, não chegar atrasado, planejar as aulas, cumprir os prazos e dar atenção aos alunos são os mais básicos deveres de todo professor, mas, ao que parece, são ações que se destacam na "paisagem" docente. Tenho medo de pensar nas ações que caracterizam
os professores "padrão" e beiro o desespero ao imaginar como seriam descritos os piores.
Há tempos estamos enfrentando uma grave crise de competência profissional em todas as áreas, ilustrada por diagnósticos errados de doenças, reações catastróficas em perseguições policiais, administração errada de remédios e adolescentes semianalfabetos concluindo o Ensino Fundamental. Impossível não associar esses absurdos com a qualidade da formação profissional que estamos oferecendo ou permitindo que ocorram.
Preocupa bastante o que nos mostra o Censo da Educação Superior quando nos revela que 65% dos professores atualmente são formados em cursos à distância (em grande número, de apenas três anos!) que vêm num processo crescente de piora na qualidade, conforme atesta o resultado do ENADE – Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes. Por sinal, sempre me perguntei se é possível formar inteiramente à distância um profissional cuja prática exige que exercite a proximidade do aluno o tempo todo.
Vou prosseguir com minha pesquisa, na esperança de que elevemos nossas expectativas quanto ao que deve caracterizar um professor de destaque. Que possamos ter a clareza de que humanidade, competência técnica e responsabilidade são requisitos básicos para o exercício dessa nobre profissão.
Que nossa consciência se amplie e nos tire dessa consciência frágil a respeito de nossa própria competência.
Júlio Furtado
Professor e escritor