Júlio Lopes é deputado federal pelo PP e presidente da Frente Parlamentar de Energia NuclearDivulgação

Os leilões de transmissão de energia no ano passado foram os maiores já realizados. Já estamos mais do que atrasados no que diz respeito ao investimento e à defesa do uso da energia nuclear em todas as áreas, principalmente na produção de alimentos e na medicina, que trará enorme benefício para todos, já que por ser uma energia barata, boa e de qualidade permanente, poderá desempenhar no futuro um papel fundamental na luta contra a descarbonização do planeta e ser de grande importância para a transição de energia limpa para o mundo; por isso temos que defender e investir na indústria nuclear no Brasil e em todas suas variações.
Mas para que isso ocorra é necessário que o urânio seja enriquecido, pois ele é o combustível fundamental para que os reatores nucleares entrem em funcionamento; e é aí que o Brasil precisa ser competitivo tanto na extração como na exportação de commodities, além de sua transformação, pois estamos entre os dez países com capacidade de enriquecer o urânio a 20% e colaborar para indústria nuclear nacional, já que possuímos a quinta maior reserva de urânio do mundo e nenhuma restrição para sua exploração.
Aguardamos com enorme expectativa a visita em março do presidente francês Emmanuel Macron ao Rio de Janeiro, pois existe a possibilidade da assinatura de um empréstimo no valor de 3 bilhões de euros que será de fundamental importância para nosso programa nuclear. Esse acordo entre França e Brasil terá o condão de colocar o programa nuclear em prioridade entre as duas nações e financiar a obra de Angra III. Além disso, o banco francês de fomento ABI pode financiar integralmente as empresas francesas já contratadas na obra, entre elas a Framatome. O banco já ofereceu 800 milhões de euros, o que pode ser concretizado imediatamente, fazendo com que todo esse programa possa se expandir muito e ser financiado com a securitização de urânio.
Como presidente da Frente Parlamentar Mista de Tecnologia e Atividades Nucleares, recebemos recentemente do engenheiro nuclear José Mauro, o livro 'Urânio no Brasil', que traz a relação de todas as reservas conhecidas, cubadas e verificadas no Brasil e de enorme importância para nosso setor nuclear. As informações contidas apontam que o país possui hoje cerca de 309 mil toneladas de urânio verificadas, representando um valor de US$ 61,8 bilhões de dólares, o que daria para financiar todo o projeto nuclear brasileiro. Importante ressaltar ainda que o plano nuclear brasileiro possui 20 pontos que podem ser considerados de enorme importância, dentre eles a criação de um programa de fomento à formação de profissionais; criação de uma política nacional de comunicação da área nuclear; a unificação da base de dados; uma política nacional de construção de reatores nucleares de pequeno porte (SMRs), além da descarbonização e transição de energia.
Para se ter uma ideia das oportunidades extraordinárias oferecidas para esse setor, para que as usinas de Angra I e Angra II fossem abastecidas, o país comprou nos últimos dez anos mais de um milhão de quilos de urânio. Em conversa com o presidente do Banco Central, mostrei que somente com as reservas de urânio que já temos conhecimento e que foram testadas, poderíamos ter um programa de securitização com base na exportação da ordem de aproximadamente de 7 bilhões de dólares em 10 anos. E o preço do urânio só faz aumentar. Quando estivemos juntos, o valor do quilo era de US$ 170, e hoje está valendo US$ 195.
Vale lembrar que a mina de Santa Quitéria, no Ceará, por exemplo, vai produzir a partir de 2026 cerca de 2,3 toneladas de urânio, o que irá gerar aproximadamente 400 milhões de dólares anuais em royalties.
Por fim, é importante registrar que o Estado do Rio de Janeiro concentra os principais órgãos da área nuclear, e que o Brasil já está no processo de criação da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN). Precisamos trocar experiências com países que tenham mais desenvolvimento no setor. Já estamos acelerando a compra do segundo pacote de 15 trocadores de calor no valor de R$ 250 milhões; já que o primeiro pacote com 9 trocadores no valor de R$ 150 milhões já está no país.
A construção das usinas e dos reatores nucleares de pequeno porte irá trazer independência para o país, gerando um grande número de empregos diretos durante sua construção e beneficiando milhares de pessoas. Desde criança o mundo procura um mapa do tesouro, e o urânio é o tesouro que nosso país possui e que irá nos transformar no maior fornecedor desse mineral e de combustível nuclear do mundo.
* Júlio Lopes é deputado federal pelo PP e presidente da Frente Parlamentar de Energia Nuclear