No dia 2 de março de 2024, a Passarela de Desfiles Darcy Ribeiro completou seus exatos 40 anos. Mais conhecido como Sambódromo, Sapucaí ou mesmo Apoteose, este maior palco de cultura popular brasileira, que para o trade turístico internacional é vendido como o local do maior espetáculo da terra, tem muita história para contar e muita memória para guardar nessas suas quatro décadas de vida.
No entanto, embora certificado nas três esferas de governo (municipal, estadual e federal) como patrimônio histórico e cultural, há de se perguntar: onde ouvir essas histórias? Onde estão guardadas essas memórias? Com certeza, nas histórias e lembranças de muita gente que passou, pelo menos uma vez na vida, por esse palco iluminado.
Ocorre que quando o Carnaval acaba, as fantasias e alegorias são desfeitas, a luz do palco se apaga e tudo que foi pesquisado e criado para os enredos é descartado, essa memória coletiva e afetiva se esvai em memórias individuais com essa multidão que desfilou e assistiu esse maior espetáculo da terra.
Isso é tudo o que o genial Darcy Ribeiro não queria, quando sugeriu ao Oscar Niemeyer, criar o Museu do Carnaval sob os arcos da Apoteose para exposições audiovisuais, antecipando para aquele espaço, 40 anos atrás, as exposições multimídias e interativas que se vê hoje!
Infelizmente, o Museu do Carnaval, funcionou, por apenas três anos com acervos dos pesquisadores Hiram Araujo e Amaury Jorio (de 1987 a 1990), como Centro de Memória e Animação do Carnaval, e nunca mais. Alega-se, entre outras razões, que as instalações do Museu e do próprio Sambódromo inunda de água com qualquer chuvinha mais forte e danificaria todo acervo do museu, mesmo ele sendo concebido pela dupla de gênios Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, para exposições multimídia.
De lá para cá, a Engenharia se modernizou e canalizou o rio da Avenida Marques de Sapucaí que passava sob a pista do Sambódromo (quem não se lembra das grandes enchentes no Catumbi), a Riourbe fez e ainda pode fazer outras obras de drenagem no Sambódromo e, alegoricamente, a memória coletiva e afetiva do palco iluminado desse maior espetáculo da terra, continua se esvaindo nas águas imaginárias que inundariam o museu.
Que ao comemorar os seus 40 anos, o Museu do Carnaval renasça para nos contar as muitas histórias e para guardar as várias memórias que passaram como um rio, parafraseando Paulinho da Viola, na vida do Sambódromo.
* Jair Martins de Miranda é professor titular da UniRio e pesquisador da cultura brasileira
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