João Batista Damasceno, desembargador do TJdivulgação
Hoje completam vinte e dois anos da morte do arquiteto, urbanista e design Sérgio Bernardes. Dentre suas muitas obras está o Pavilhão de São Cristóvão. Depois de um incêndio que lhe destruiu o teto côncavo, abriga a Feira de Tradições Nordestinas. Sérgio Bernardes marcou o modernismo. É um dos principais nomes, mas permanece à sombra de Oscar Niemeyer e Lucio Costa, igualmente monstros sagrados da arte.
florido. Quando uma espécie encerra seu ciclo floral outra já entra em cena.
Há uma comunidade de coletores de sementes, que se conheceu ao longo dos anos. Ultimamente, as maritacas têm acordado mais cedo ou comido as sementes antes que amadureçam, frustrando os coletores. Burle Marx deixou seu sítio para o Estado, aberto à visitação, e seu nome nele se perpetua. Affonso Eduardo Reidy é outro dos arquitetos de quem os cariocas pouco falam. Sua mais vistosa obra é o Museu de Arte Moderna no centro do Rio. Mas há outras esplendorosas.
Eu conheci Sérgio Bernardes quando ainda era estudante. Nas eleições de 1982 o regime empresarial-militar inventou o voto vinculado. O eleitor tinha que votar em candidatos de apenas um partido. Eram seis votos: vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador e governador. Um único voto em partido diferente o anulava. Foi uma forma que a ditadura arranjou para manter os currais eleitorais, garantir a fidelidade partidária nos grotões e inviabilizar os partidos de oposição que surgiam e não tinham como
arranjar tantos candidatos quantos necessários para formar as nominatas. No Rio de Janeiro o povo queria Brizola governador depois de 15 anos de exílio, nacionalista e mais expressivo nome da oposição aos militares.
do partido, mas acabou eleita. Em Nova Iguaçu Brizola deu um banho de urna nos adversários e graças a ele
o partido igualmente elegeu o prefeito.
o interlocutor.
Um dos seus projetos foi construir um porto interno na Baixada Fluminense. Ele propôs que não se construísse o porto de Itaguaí ou o que viria a ser o Arco Rodoviário Metropolitano no Rio de Janeiro. Ele
propunha que se interligasse, por um canal, o Rio Iguaçu, que deságua na Baía de Guanabara em Duque de Caxias, ao Rio Guandu, que deságua na Baía de Sepetiba. Dizia que os portos do Rio de Janeiro e Itaguaí ficariam interligados e o canal serviria como porto interno, protegido, ao longo do qual poderiam se estabelecer indústrias e outras atividades empresariais.
Durante o tempo em que falava a plateia se remexia como se aquilo fosse um projeto inexequível. Ao fim de sua palestra, ainda menino, me aproximei e perguntei a ele sobre a viabilidade de se construir um canal
com tal dimensão. Ele não me falou dos canais de Suez, Corinto ou Panamá. Apenas me perguntou: “Você conhece o porto de Hamburgo?” Eu disse que não. Jamais tinha saído do país. Ele emendou: “Depois de
conhecer me fale”. Na primeira vez que fui à Alemanha minha maior curiosidade era conhecer tal porto, para espanto de todos que diziam haver coisas melhores para ver. Hamburgo e seu porto estão a 110 km do mar, é o 3º maior da Europa e 15º do mundo.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.