Helio SeccoDivulgação

Estive no último final de semana em Cabo Frio, quando tive oportunidade de transitar por diversos bairros e constatar uma decepcionante realidade. Fica evidente a falta de planejamento e ordenamento no crescimento urbano da cidade. A começar pelas construções destoantes em relação ao contexto da rua ou do bairro que se inserem, onde muitas das vezes você encontra uma ao lado da outra com padrões completamente distintos e desalinhados a normativas básicas de engenharia e ao próprio código de
obras e edificações do município.
Também é notória a ineficiência da limpeza urbana. Temos a sensação que ter resquícios de lixo dispersos pelas ruas e calçadas se tornou algo normal, até em pontos turísticos. Raramente se vê uma lixeira instalada em um poste ou uma esquina da cidade, e as poucas que ainda estão presentes estão em péssimas condições, algumas já inutilizáveis. Na Ilha do Japonês, além de se ver um maravilhoso pôr do sol, também vemos numerosos resíduos plásticos boiando sob as águas cristalinas do Canal do Itajuru. Na paradisíaca Praia do Forte, a areia cheia de resíduos em meio ao caos da disputa por espaço entre comerciantes em barracas, ambulantes e os banhistas com cadeiras, mesinhas, caixas de som e tudo
mais. Por falar em Forte, lhes convido a visitar o letreiro turístico com a frase “Amamos Cabo Frio”, localizado no calçadão, mas tomem cuidado para não se cortarem no metal cortante que se encontra exposto e enferrujado. Impressiona não haver indignação nas pessoas que frequentam os locais.

A cidade vem se tornando menos agradável ao morador e ao turista, também pela perda da característica de arborização urbana. Cabo Frio possuía árvores vistosas na maioria de suas ruas e avenidas. Quem nunca se viu olhando para a copa florida de um exótico Flamboyant laranja e de outras espécies de árvores típicas na cidade? Ou pelo menos buscou abrigo do sol, debaixo de uma sombra dessas árvores ao sair da praia? De acordo com o último censo do IBGE que levantou dados sobre arborização, no ano de 2010, Cabo Frio tinha 61,5% dos domicílios em vias públicas dotadas de árvores, o que certamente se reduziu nos últimos 14 anos.
Esses fatores me levaram a uma breve pesquisa sobre índices que ilustram o triste sucateamento de Cabo Frio. Ao acessar a plataforma de dados e informações sobre saneamento básico da Infosanbas, constatei que o serviço de coleta de resíduos urbanos depende exclusivamente da Comsercaf. A Companhia é uma autarquia de administração pública indireta (a nomeação de seus gestores é feita pela prefeitura), e destina-se a atividades de planejamento,elaboração de projetos,limpeza urbana e execução de obras públicas. Até
hoje Cabo Frio não faz parte de nenhum consórcio intermunicipal para gestão ou manejo de resíduos urbanos, não há coleta seletiva, e não há rede ou associações organizadas de catadores de materiais recicláveis. Já no portal do Instituto Água e Saneamento, consta que mais de 10% dos domicílios cadastrados não possui coleta de lixo, o equivalente a quase 21 mil habitantes.
Cabe aos frequentadores da “capital da Região dos Lagos” serem minimamente exigentes para cobrarem dos tomadores de decisão que qualifiquem a capacidade de gestão para que a cidade possa crescer sem perder sua identidade.
* Helio Secco é Doutor em Ciências Ambientais pela UFRJ, graduado em Administração Pública, e empreendedor na área de consultoria ambiental