O cidadão carioca vive a sua pior fase no que diz respeito ao direito de ir e vir. São constantes os confrontos e somente nesta semana, o episódio na Av. Brasil, principal via expressa da cidade, demonstrou o caos que estamos vivendo. E a pergunta que não quer calar é até quando esperaremos por uma ação integrada e efetiva das três esferas de poderes. Não dá para entender o que as autoridades estão esperando acontecer para que algo seja feito. Vivemos uma guerra irregular, que são as piores das guerras, pois não têm regra e os alvos são os cidadãos civis.
Essa tragédia na Av. Brasil, na altura da Cidade Alta, surpreendeu trabalhadores de carros e coletivos, num tiroteio intenso, fruto da reação dos bandidos a uma ação policial. Um pânico generalizado, com motoristas ao chão e na linha de tiro. Infelizmente, mais uma vez o saldo foi cidadãos feridos e mortos. Trabalhadores inocentes que, sem alternativas, vivem vulneráveis e à mercê da própria sorte.
De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, durante o mês de setembro, 196 tiroteios foram mapeados só na Região Metropolitana do Rio. Destes, 40% aconteceram durante operações policiais, demonstrando que a polícia está trabalhando, porém é preciso deixar claro que sozinha ela não dará conta de frear o avanço da criminalidade. Regiões inteiras do Rio estão dominadas por criminosos e milicianos, que extorquem moradores e os impõem as próprias regras. Um poder paralelo, no qual o Estado constituído está de fora e sem controle. Retomar essas áreas e trazer a paz exige planejamento estratégico e inteligência, algo que há anos sinalizamos, porém entra e sai governo e nada avança. Talvez, esteja aí o grande erro do país, qual seja tratar a Segurança Pública como política de governo e não de Estado. O maior exemplo disso foram as UPPs que não se sustentou por vários motivos, dentre eles a descontinuidade e, sobretudo, a falta de introdução de outros serviços públicos. Violência se combate com policiamento ostensivo, mas junto deve haver investimento em educação, saúde, saneamento básico, moradias dignas, emprego e geração de renda. Isso não é fácil, pelo contrário, é complexo, mas é o único caminho e que exige a união de forças das três esferas de poderes. Sem isso a situação só tende a agravar e continuaremos expostos aos constantes confrontos armados.
* Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública
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