Marcos Espínola, colunista do DIADivulgação

Muito se discute sobre a relação entre a pobreza e a miséria com a violência. O tema é complexo, porém é inegável os impactos nocivos dessa desigualdade para qualquer cidadão. Viver na linha da pobreza significa falta de acesso a quase tudo. E isso revolta, traumatiza, fere e, em muitos casos, faz com que em certos momentos a pessoa nem se identifica como gente, numa crise de identidade contínua e atordoante.
Muitos pensadores defendem que a criminalidade não pode ser explicada apenas pela falta de recursos financeiros ou pela desigualdade social, mesmo que essas informações sejam baseadas em evidências e levadas em consideração. Que me desculpem esses estudiosos, mas discordo. Eles defendem que esses aspectos caminham separados de outros fatores, como habitação, saneamento, educação, família, serviços básicos etc.
Entretanto, vejamos: se um indivíduo não tem emprego ou ganha menos que um salário mínimo, ou seja, vive abaixo da linha de pobreza com renda disponível de US$ 6,85 por dia, o equivalente a R$ 665 mensais, ele não tem acesso. Essas pessoas, que hoje no Brasil significa 27,3% da população, naturalmente não gozam de boa alimentação, não moram bem, não proporcionam educação de qualidade para os filhos e mesmo quando tem acesso a escola pública, muitas vezes não tem recurso para locomoção, material etc.
Isso tudo corrobora para uma vida sob pressão e baseada no sofrimento, na maioria das vezes submetida a humilhações constantes e preconceitos de toda ordem. Isso gera frustração e revolta, principalmente daqueles que nascem, crescem e chegam à vida adulta vendo avós, pais e a família inteira longe de uma vida digna que deveria ser inerente a todos. Inclusive a própria Constituição prevê, no artigo 6º, direito à saúde, educação e moradia para todos.
Não é à toa que a maioria dos presos no Brasil são negros e pobres. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os negros são os mais condenados, representando 71,35% do total, contra 64,36% dos brancos.
Enfim, que me desculpem as vozes destoantes, mas uma vida miserável é um fator impulsionador à violência. Isso é fato e essa condição, somada a preconceitos de toda ordem, gera revolta. Um ciclo lamentável para qualquer sociedade.

*Advogado criminalista e especialista em segurança pública