O mundo está doente, é o que ouço no rádio que dá notícias na manhã quente. A terra está quente e doente. Tem febre. De um canto, inundações; de outro, seca.
O mundo está doente, é o que ouço no rádio que dá notícias na manhã quente. A terra está quente e doente. Tem febre. De um canto, inundações; de outro, seca.
Seco está o coração do homem que não cuida do mundo que habita. Habitam o mundo, também, outros seres que padecem no rastro da destruição. Onde está a porta do mundo para entrarmos novamente? E entrarmos corretamente?
O mundo está doente. O de fora e o de dentro. O mundo de dentro está sujo de egoísmos. De falta de crescimento. Crescer é deixar de ter a si mesmo como a única razão de estar no mundo. Crescer é superar as frustrações de não ser um outro. É ser para o outro, para os outros. Crescer é entrar pela porta do mundo com a consciência de que o mundo é para todos.
Onde foi que deixamos de crescer? O rádio que dá notícias na manhã quente poderia dizer do frio que está o coração do homem. O frio que diminui o sentir da dor quando dói o mundo. Dói com a poluição, resultado da ambição desmedida. Dói com os sofrimentos dos animais.
Onde foi que esquecemos a compaixão? Onde foi que deixamos de nos emocionar com o nascer de um filhote barulhando a vida e trancafiamos a vida nos horrores de crueldades indizíveis? Onde foi que deixamos de respeitar os rios que nos saciam a sede e os verdes que nos permitem respirar?
E a terra onde pisamos nós, onde pisaram os que vieram antes e que têm direito de pisar os que virão depois? Onde foi que desaprendemos o pensar, o sentir, o abraçar?
Os brilhos dos olhos, há muito, brilham menos. Árvores sozinhas não fazem florestas. Nem os pássaros, a quem foi dado o poder do voo, fazem revoada, se estiverem sós,
O rádio que dá a notícia na manhã quente poderia dizer que estamos sós. Somos bilhões e estamos sós. Os olhos, sem brilho, estão opacos. Veem telas e não outros olhos. Riem de perversidades e não dos dizeres carinhosos ditos de bocas humanas. Agridem o outro, o mundo e a si mesmos. E o ódio nos faz mais tristes. E os gritos nos impedem de ouvir a nona sinfonia de Beethoven. Ou de ler os poemas de Castro Alves.
Onde foi que deixamos a liberdade? Escravos do que querem de nós sem sabermos quem são eles. Nas telas, eles são uma multidão e são ninguém. E diante de nós, em um único olhar, mora uma multidão de afetos esperando um abraço para acalmar o mundo e um braço para percorrer o mundo acompanhado.
Onde está a porta do mundo para entrarmos novamente? O ventre materno nos diz muito. O nascer. O amanhecer. Para as doenças, o remédio. O remédio é o que cura, é o que alivia a dor, o desconforto. É preciso estar desconfortável com a terra doente. A terra é mãe. A doença da criança se alivia com o amor de mãe.
O amor é o mais potente remédio para a doença da terra e para a doença dos que habitam a terra. O amor habita todas as gentes. É só abrir a porta. A porta do mundo da gente para que o amor cure o mundo da gente.
O amor não é apenas sentimento. O amor é movimento. É movimento no dar o abraço e o braço. A toda gente. Sem os preconceitos que fecham a porta do mundo.
O rádio que dá a notícia na manhã quente poderia estar dizendo. Nesse verão, nesse quase fim de mais um ano, o amor, finalmente, voltou a amanhecer.
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