Márcio de Jagun. *Pós-doutor em Ciências das Religiões, Prof. de cultura e religiosidade ioruba, Membro da Academia Pan-americana de Letras e Artes e autor de nove livros sobre religiões afro-brasileiras Divulgação
O ato de pular sete ondas na virada do ano, ou colocar flores no mar, comum nas cidades litorâneas, também é influenciado pelas tradições de terreiro. A devoção a Yemanjá ganhou corpo e ultrapassou todas as barreiras. Hoje, congrega pessoas de todos os credos, origens e etnias, sendo denominadas como "yemanjismo", pelo Prof. Armando Vallado.
O culto a Yemanjá tem origem na cidade africana de Abeokuta, às margens do rio Lakaxa, na atual Nigéria. Daí sua saudação: "Odò Ìyá!" (Mãe do Rio!). Lá, era celebrada como a deusa que protegia as crianças prematuras e doentes. Filha mítica de Olokun (Deus dos Oceanos) e irmã de Ajê Xaluga (Divindade das espumas do mar), Yemanjá se espalha pelo mundo, ganhando fama e devoção. No Brasil, desde a chegada, de escravizados daquela região, as honras a Yemanjá sempre existiram neste solo. Em Salvador-BA, os mais remotos registros apontam que essas honrarias eram feitas na lagoa do Abaete, seguindo a tradição que associava Yemanjá às águas doces. Mas, no início dos anos 20 do século passado, quando de uma seca e da escassez de pescado, a festa foi levada para o Rio Vermelho. Foi lá que Yemanjá ganhou sua herança como filha dos oceanos e irmã das espumas do mar. Foi lá que Yemanjá assumiu a regência dos mares do Brasil.
Lá na Bahia, em função do sincretismo com Nossa Senhora dos Navegantes, a data marcante é 2 do fevereiro, o dia da santa católica, que passou a ser dividido com a deusa negra Yemanjá.
Seu nome pode ser traduzido do idioma ioruba, como Mãe dos Filhos Peixes. Somos assim, um enorme cardume de peixes diversos, plurais, múltiplos, sempre em trânsito pelo oceano da vida, sempre abraçados e amparados pela grande mãe Yemanjá.
* Márcio de Jagun é pós-doutor em Ciências das Religiões, professor de cultura e religiosidade ioruba, membro da Academia Pan-americana de Letras e Artes e autor de nove livros sobre religiões afro-brasileiras
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