O mercado de aluguéis no Brasil está vivendo um período de intenso aquecimento, resultado de uma combinação de fatores econômicos, demográficos e culturais que têm transformado profundamente o comportamento dos brasileiros em relação à moradia. De acordo com dados do Secovi Rio, a demanda por imóveis para locação registrou um aumento considerável após a pandemia, com um crescimento médio superior a 61% no valor do metro quadrado e uma queda de 44% nas ofertas disponíveis. Esse cenário é ainda mais impactado pela elevação da taxa Selic, atualmente em níveis elevados, o que dificulta o financiamento imobiliário e torna a compra de imóveis menos acessível até mesmo para consumidores tradicionais. Em um ambiente de juros altos, muitos preferem manter seus recursos aplicados em investimentos mais rentáveis, como fundos de renda fixa, em vez de comprometer capital na aquisição de imóveis.

Além do contexto econômico, as mudanças nos arranjos familiares e nas preferências de estilo de vida também têm impulsionado a demanda por aluguéis. Casais sem filhos, pessoas que preferem morar sozinhas e profissionais em busca de mobilidade residencial estão contribuindo para a diversificação do mercado. O imóvel próprio, antes considerado essencial para a estabilidade e o status, está perdendo força, especialmente entre as gerações mais jovens. Para muitos da Geração Z e também para parte das gerações Y, X e até dos Baby Boomers, acumular bens já não é mais uma prioridade. Em vez disso, a busca por experiências, como viagens ou educação, tem se tornado mais atraente. Nesse contexto, o aluguel deixa de ser uma opção temporária e passa a ser visto como uma escolha estratégica, mais alinhada com as novas prioridades de vida.

A elevação da demanda também levou ao surgimento de novos modelos de empreendimentos no mercado imobiliário. Um exemplo disso são os empreendimentos multifamily, construídos especificamente para locação, inspirados em modelos consolidados nos Estados Unidos e na Europa. Esses projetos têm atraído tanto investidores quanto consumidores que valorizam conveniência e flexibilidade, sendo especialmente procurados por estudantes e idosos. Além disso, muitos desses empreendimentos estão incorporando serviços de convivência e suporte emocional, criando comunidades que priorizam a saúde e o bem-estar dos moradores. Outro segmento crescente é o do short stay, que se refere ao aluguel de curta temporada. Com um foco em investidores e consumidores em busca de custo-benefício e flexibilidade, esses imóveis se mostram uma alternativa atraente em relação aos hotéis tradicionais.

A tecnologia também tem desempenhado um papel fundamental no mercado de aluguéis, tornando o processo de locação mais ágil e menos burocrático. Plataformas digitais, como Quinto Andar, Loft, Housi e Airbnb, bem como empresas tradicionais do setor, têm facilitado desde a busca por imóveis até a gestão de contratos e pagamentos. A análise de crédito e a administração de imóveis para estadias de curta ou longa duração também se tornaram mais eficientes. Além disso, o aumento da segurança, por meio de soluções como seguros e títulos de capitalização, tem trazido mais confiança tanto para proprietários quanto para inquilinos, tornando o processo de aluguel mais transparente e seguro.

Estamos, sem dúvida, vivenciando uma transformação significativa na forma como os brasileiros lidam com a moradia. O conceito de "ter um imóvel próprio" como sinônimo de status e estabilidade está dando lugar à flexibilidade e à personalização. O mercado de aluguéis já não é mais apenas uma solução temporária para aqueles que não conseguem comprar uma casa, mas se tornou uma escolha definitiva para muitos, especialmente para aqueles que buscam mais mobilidade, menor compromisso financeiro e um estilo de vida mais dinâmico e adaptável. O futuro da moradia no Brasil será cada vez mais marcado pela diversificação e pela busca por soluções que atendam às diferentes necessidades e objetivos de vida de cada indivíduo.
* Leonardo Schneider, diretor superintendente da Apsa e vice-presidente do Secovi Rio