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Antônio Geraldo da Silva: Pasmem! Excesso de notícias pode fazer mal
Estar atualizado é essencial, mas é preciso equilíbrio para que a busca por informações não se transforme em um peso. Eu gosto de acompanhar notícias lendo jornais, navegando pela internet e ouvindo rádio no carro, mas tomo cuidado para não deixar isso dominar minha rotina ou impactar meu bem-estar. O segredo está em consumir informações em pequenas doses, sem passar horas conectado, e filtrar o que realmente importa e me traz algo positivo.
Hoje, somos bombardeados por conteúdos sobre guerras, desastres naturais, crises econômicas e violência. Não importa o canal — seja TV, rádio, redes sociais ou sites de notícias, o tom alarmante é onipresente. Isso exige de nós uma postura ativa: precisamos decidir conscientemente o que permitimos que entre na nossa mente e no nosso dia. Afinal, a forma como consumimos informações impacta diretamente nosso humor, nossas emoções e até mesmo nossa saúde mental.
O problema do excesso de informações é mais grave do que parece. Estudos apontam que a exposição constante a notícias negativas ativa o sistema de resposta ao estresse do corpo, elevando os níveis de cortisol, o hormônio responsável por preparar o organismo para emergências. Embora útil em momentos de perigo, quando ativado constantemente, o cortisol pode causar danos à saúde, como hipervigilância, ansiedade e, em casos mais graves, transtornos como Ansiedade Generalizada (TAG) e Estresse Pós-Traumático (TEPT).
Além disso, a sensação de impotência diante de eventos amplamente divulgados, como pandemias, crises climáticas ou conflitos geopolíticos, também contribui para sintomas depressivos. Muitas pessoas relatam sentimentos de desesperança, cansaço emocional e alienação. Esses impactos não são raros e vêm se tornando cada vez mais evidentes.
No consultório, tenho observado um número crescente de pacientes que apresentam sinais claros de superexposição a notícias ruins. Muitas dessas pessoas vivem em constante estado de alerta, mostrando irritabilidade, dificuldade de concentração e sensibilidade elevada a situações cotidianas. Jovens são ainda mais vulneráveis, pois consomem informações majoritariamente em redes sociais, ambientes que privilegiam conteúdos sensacionalistas e reproduzem notícias incessantemente. Além disso, pessoas que já enfrentam transtornos como ansiedade e depressão frequentemente têm seus sintomas agravados por essa enxurrada de informações negativas.
Diante desse cenário, como reduzir os danos?
Defina um tempo limite diário para se informar, escolha meios de comunicação confiáveis e responsáveis, que apurem as informações antes de publicá-las e não adotem um tom sensacionalista, por isso faça o seu próprio filtro, avalie quais notícias realmente importam para o seu dia a dia ou sua profissão, por exemplo. E, o mais importante, priorize momentos de lazer com amigos e família, com atividades que proporcionem prazer e relaxamento.
Um ano novo traz a chance de reescrevermos nossas histórias. Mais do que nunca, é o momento de refletir sobre nossas escolhas e priorizar o que realmente importa: nossas necessidades, preferências e aquilo que nos faz felizes. Assim como é importante filtrar e verificar a autenticidade das informações que consumimos, também precisamos ser criteriosos ao buscar ajuda profissional quando se trata da nossa saúde mental. Da mesma forma que confiar em notícias falsas ou mal apuradas pode nos desinformar e prejudicar, contar com profissionais não qualificados ou desatualizados pode comprometer nosso bem-estar e atrasar o nosso progresso.
Portanto, faça de 2025 o ano em que você se coloca como prioridade. Reflita sobre o que te move, filtre o que agrega valor à sua vida e não hesite em buscar apoio quando necessário. Cuide de si com a mesma atenção que você daria à escolha de uma boa notícia ou à consulta com um médico psiquiatra confiável, não terceirize o seu cuidado e daqueles que você ama, tome a frente e dê o melhor rumo, afinal sua saúde vale ouro, sem ela, como será o seu tempo de vida de qualidade? Se precisar, peça ajuda! Que este seja o seu melhor ano, mais leve, consciente e pleno de realizações! O melhor está por vir.
Antônio Geraldo da Silva é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria
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