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Antônio Geraldo da Silva: Pesquisa garante: As mulheres adoecem mais!
Embora seja uma verdade incômoda, não há como negar: as mulheres vivem mais, mas com saúde mais fragilizada. Um estudo publicado na prestigiada revista The Lancet Public Health revelou que, enquanto os homens lidam com doenças fatais mais precoces, as mulheres enfrentam uma trajetória marcada por enfermidades que se arrastam ao longo do tempo.
As nuances dessas diferenças são intrigantes. Enquanto as mulheres padecem mais frequentemente de dores lombares, enxaquecas e depressão, os homens tendem a ser acometidos por doenças cardiovasculares e traumas decorrentes de acidentes. A questão, no entanto, vai muito além de predisposições biológicas e se entrelaça profundamente com fatores sociais e emocionais.
A saúde mental feminina é um campo de estudo da psiquiatria que exige sensibilidade e profundidade, pois reflete um mosaico de influências biológicas, sociais e hormonais. No Brasil, a maioria das mulheres encara o peso de uma rotina exaustiva: jornadas profissionais intensas, seguidas pela carga das responsabilidades domésticas, muitas vezes invisíveis e pouco reconhecidas. Esse acúmulo não é apenas um reflexo de desigualdade estrutural, mas um fardo mental que corrói silenciosamente o bem-estar, intensificando quadros de ansiedade, depressão e esgotamento.
Não se trata de vitimizar ou enxergar a mulher como frágil, mas de reconhecer que o mito da “mulher que dá conta de tudo” cobra seu preço. É preciso repudiar a ideia de que o homem “ajuda” – porque ajuda pressupõe que a responsabilidade seja prioritariamente feminina, quando, na verdade, o que se espera é uma divisão justa e natural das obrigações. Tarefas compartilhadas não são favores; são uma expressão de parceria e respeito mútuo.
Estatísticas do IBGE mostram que as mulheres ainda dedicam, em média, o dobro do tempo que os homens às tarefas domésticas. Essa desproporção impacta diretamente o sono, o lazer e, consequentemente, a saúde emocional e física feminina. O cansaço vai além do corpo; para muitas mulheres, o burnout deixa de ser uma exceção e se torna uma realidade, mascarada, mas urgente.
Além do contexto social, o impacto das oscilações hormonais ao longo da vida feminina não pode ser ignorado. O ciclo menstrual, a gravidez, o pós-parto e a menopausa representam marcos fisiológicos acompanhados por flutuações nos níveis de estrogênio e progesterona, hormônios que desempenham papéis cruciais no sistema nervoso central, influenciando diretamente o equilíbrio emocional. Essas transformações, muitas vezes, intensificam os desafios da saúde mental, exigindo um olhar atento e especializado.
Abordar os transtornos mentais femininos de forma eficaz requer uma visão ampla e compassiva. Isso demandam atenção médica especializada, com destaque para o papel do médico psiquiatra, que pode atuar em parceria com outros profissionais no cuidado integrado da mulher. É imprescindível que as mulheres sejam acolhidas em sua complexidade, com estratégias que incluam não apenas o manejo das demandas cotidianas, mas também o acompanhamento por profissionais médicos ginecologistas e endocrinologistas. A criação de redes de apoio, tanto familiares quanto sociais, também desempenha um papel essencial na construção de uma rotina plácida.
Quando olhamos ao nosso redor, quantas mulheres exaustas encontramos? Quantas sufocam seus próprios anseios e negligenciam suas necessidades para sustentar tudo e todos? O autocuidado, muitas vezes tratado como supérfluo, precisa ser ressignificado como um ato de sobrevivência. A mulher precisa parar, olhar e atuar para si mesma: agendar e comparecer a consulta médica, investir em psicoterapia, cuidar do corpo, realizar momentos de pausa; priorizando o que nutre a longevidade do bem-estar. Pequenas ações podem ser gestos revolucionários em meio à correria.
Para os homens, um convite à reflexão: não “ajudem”, mas assumam as responsabilidades que lhes cabem. A ideia de colaboração nasce do equilíbrio, não da condescendência. E para ambos os gêneros, uma verdade incontornável: ninguém precisa “carregar o mundo” sozinho. Pedir ajuda não é fraqueza; é coragem.
Na intenção da prevenção, cuidar, afinal, não é um fardo e sim, uma dádiva; tanto para quem oferece quanto para quem recebe. Que possamos em consonância cuidar melhor de nós mesmos e uns dos outros, com gentileza, empatia, equilíbrio e amor. Se precisar, peça ajuda!
* Antônio Geraldo da Silva é presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria
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