Geraldo Peçanha de AlmeidaDivulgação

Por muito tempo a educação especial era tida como a possibilidade de ensinar algo a aquele que, em tese, não poderia aprender. Nesse sentido foram desenvolvidas técnicas alternativas de ensino para que a aprendizagem fosse alcançada. Essa ideia tem que ser superada. Apesar dela ainda estar muito presente nas famílias que buscam melhorar a vida de seus filhos deficientes, já é ultrapassada por reduzir a inclusão ao trabalho escolar – e não é isso. É sempre importante lembrar que terapia multidisciplinar não é cura. É apoio. Apoio que não substitui a família.
Outro erro, e nesse caso mais grave, pois ao mitigar um processo tão amplo ao trabalho escolar, foi reduzida a potência da pessoa deficiente. Muitos alunos com deficiência poderão não apresentar resultados acadêmicos desejados, mas poderão ser artistas, atletas, músicos, dentre tantas outras coisas cujas habilidades para tal quase sempre não podem ser apresentadas, desenvolvidas ou construídas somente na escola.
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A inclusão é, de fato, um processo social, de um todo que se aglomera e aglutina em torno da pessoa deficiente, e deixar essa função somente pra escola é o maior erro da inclusão. As principais recomendações para educadores que desejam adotar práticas inclusivas em suas salas de aula são a melhora de suas capacitações de compaixão e misericórdia. Somente essas duas competências socioemocionais vão ajudar, a todos, na construção de um contexto social inclusivo no Brasil. Aumenta a cada dia o número de pessoas com necessidade de compaixão, mas concomitantemente vemos o distanciamento da sociedade para as questões de paciência, compreensão, tolerância e espera. O processo de inclusão é uma espera enorme. A família espera, a sociedade espera e a criança se constrói no seu tempo e dentro de suas possibilidades. Deveria ser sempre assim, mas uma sociedade imediatista que quer tudo no tempo da internet, perdeu essa compreensão e com isso os deficientes foram também jogados nessa mesma dinâmica.
Essa é a questão principal: deficientes são capazes, mas podem no tempo deles à maneira deles, não no tempo da expectativa de quem com eles se relacionam. A escola tem bimestre, trimestre, prova, ano letivo, hora de aula e conteúdos planejados, ou seja, exatamente o contrário daquilo que meninos e meninas deficientes precisam. Sem essa compreensão não temos futuro para essas crianças. Arrisco a dizer que nem para as típicas.

Geraldo Peçanha é especialista em Educação Infantil e Pós-graduado em TEA - Transtorno do Espectro Autista