O convite era para um acordar antes. E para um caminhar até um lugar, na floresta, em que se poderia ver o sol nascendo.As nuvens teimavam em dizer sombras e o amanhecer, com a força do sol, era ainda duvidoso.
O vento fez, então, o seu dever. E nasceu o sol. E nasceu e se banhou no grande rio. E nasceu iluminando com a poesia do sol amazônico. Depois, o barco e o sentir a força das águas. E o encontro das águas. Dois grandes rios se acariciando para fazer nascer um ainda maior.
E o nadar entre os botos. E a conversa com o Cacique e a benção do Pagé e as danças ensinadoras das nossas tradições mais profundas, do nosso respeito à mãe natureza, da qual somos todos filhos.
E, então, uma parteira daquela comunidade indígena respondeu às minhas perguntas sobre o nascer na floresta.
Uma escola construída sobre as águas se punha como guardiã das identidades e abria as janelas para os amanhãs.Antes disso, falei aos educadores. E visitei o grande teatro de Manaus. Que espetáculo de construção humana em louvor à arte. O Sesc Amazonas e sua gente valente. Falei e ouvi. Aprendi mais do que ensinei.
Antes disso, Boa Vista e o abraço aos que chegaram de outros países em busca de paz. No Sesc, professores venezuelanos ensinavam o seu canto em um canto que os acolheu. Ganhei um quadro, um pássaro lindo. E ganhei felicidade.
Depois, fui para a cidade onde o rio Amazonas faz parte do cenário dos cotidianos de uma gente abraçadora dos afetos. Macapá e o seu vaivém da maré e das prosas em noite quente de encontros.
Encontrei em minha ciranda na região norte, do meu país amado, três mulheres gigantes, Adriana, Emilie e Lisiane. Encontrei sonhadores que fazem, Ademir, Aderson e Ladislao. Encontrei olhares que me olhavam e ouvidos que ouviam, com atenção, meu dizer sobre a vida.
Longe de mim dizer verdades por mim decididas. Sou um frequentador confesso da casa dos que se sabem em construção.
Construí um pedaço de mim nesses dias.
Para o Pagé, perguntei também sobre a morte e ele disse que era um voltar à casa principal, ao Ser maior que nos fez desde sempre. Cantou músicas que celebram a vida que nunca termina.Na comunidade deles e em nenhuma outra das tantas etnias desse país gigante, há crianças abandonadas ou moradores suplicando esmolas nas ruas.
Na comunidade deles, um cuida do outro, um e o outro compreendem o valor de viver juntos na mesma terra e de sermos irmãos. Quanta sabedoria! Onde foi que nos perdemos?
O cantar dos pássaros da grande floresta ainda está em mim. O explicar das árvores tão ensinadoras da serenidade permanecem mesmo diante das chuvas que chovem muito ou dos ventos que limpam nuvens e que fazem barulhos.
Comi comidas típicas servidas por sorrisos agradecidos de poderem compartilhar o seu sabor.Agradecido estava eu quando entrei em um voo para voltar para casa.
A Amazônia é minha casa também. Do alto, eu via o rio e dizia um até breve. A imagem dos que estavam nas minhas palestras fazia companhia no meu regressar.
O sol amazônico é, de fato, lindo. Tão lindo quanto a gente amazônica que brilha luz e que esquenta de esperança as friezas que andam frequentando o mundo em que vivemos.
O convite era para um acordar antes. Acordei.