O segundo mandato de Donald Trump traz expectativas de continuidade em suas políticas energéticas e ambientais, amplamente marcadas no primeiro governo por uma forte ênfase na desregulamentação, na promoção de combustíveis fósseis e em um ceticismo declarado em relação às energias renováveis. No entanto, esforços para o combate inflacionário na economia norte americana, o avanço da tecnologia, a crescente demanda energética em setores estratégicos , como os data centers, e as pressões globais por sustentabilidade colocam desafios e oportunidades para o governo. Neste contexto, a energia nuclear desponta como uma alternativa estratégica que pode equilibrar interesses econômicos imediatos com a necessidade de diversificação da matriz energética.
Políticas Energéticas no Primeiro Mandato Durante seu primeiro mandato, Donald Trump focou em combustíveis fósseis como base para garantir a independência energética dos Estados Unidos, transformando o país em um dos maiores produtores e exportadores de petróleo e gás natural. Suas políticas incluíram a flexibilização de regras ambientais, como o afrouxamento do Plano de Energia Limpa (Clean Power Plan) e o fim de restrições sobre emissões de metano na indústria de petróleo e gás. Ele também liberou a exploração de recursos em áreas ambientalmente sensíveis, como o Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, e defendeu o uso do carvão como uma peça estratégica para o setor energético.
A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, em 2017, foi um marco da postura de Trump, que colocou a proteção dos empregos tradicionais do setor energético acima dos compromissos climáticos globais. Ele argumentou que o pacto trazia desvantagens para a economia americana, enquanto favorecia países como China e Índia, que, na sua visão, competiam de forma injusta ao não arcar com as mesmas obrigações ambientais.
Apesar desse foco em combustíveis fósseis, o mercado de energias renováveis continuou crescendo. Impulsionadas por avanços tecnológicos, redução de custos e demanda de grandes corporações e governos estaduais, a participação das fontes solar e eólica ganharam espaço na matriz elétrica. Contudo, Trump mostrava-se crítico a essas escolhas, considerando-as intermitentes, caras e prejudiciais ao desenvolvimento econômico. Em contraste, o setor nuclear, que já respondia por cerca de 20% da eletricidade gerada no país, recebeu menos atenção e investimentos, o que limitou seu potencial de contribuição para a matriz energética.
O Papel Estratégico da Energia Nuclear no Segundo Mandato
Com o início do segundo mandato, a energia nuclear surge como uma possibilidade estratégica, especialmente diante do aumento da demanda energética causada pela expansão de setores de alta tecnologia.
Grandes conglomerados industriais e comerciais, estão procurando incorporar ativos de energia nuclear para o atendimento do crescimento da carga. Data centers, consomem grandes volumes de energia para manter suas operações, refrigeração e processamento de dados em larga escala. Estima-se que esses centros já representem cerca de 1% do consumo global de energia elétrica, com projeções de crescimento à medida que a tecnologia avança.
Para este fim é imperativo que fontes com altos fatores de capacidade e que operam na base do sistema elétrico sejam candidatas. Na sua maior parte esta demanda está atrelada aos data centers em nuvem, às necessidades impulsionadas pela Inteligência artificial (IA) e ao mercado de criptomoedas.
Neste sentido, grandes empresas de tecnologia recentemente investiram em usinas nucleares para atender às suas necessidades de energia firme:
1. A Microsoft contratou a Constellation Energy para reiniciar a operação da Unidade 1 em Three Mile Island (880 MW) sob um acordo de compra de energia de vinte anos. Além disso, os pequenos reatores modulares (SMRs) emergem como uma solução flexível, segura e economicamente competitiva, sendo desenvolvidos por empresas como a TerraPower.
2. A Alphabet/Google assinou um acordo de até 500 MW para pequenos reatores modulares (SMRs). O primeiro teste já recebeu licença de construção do órgão regulador americano (NRC) e tem operação prevista para 2027.
3. A Amazon anunciou projetos de energia nuclear nos estados de Washington e Virginia com a Energy Northwest e Dominion Energy para explorar desenvolvimento de SMRs . Nesse cenário, a energia nuclear oferece vantagens claras: fornece eletricidade de forma estável, contínua e de baixo carbono e grandes corporações já estão investindo nesse recurso.
Para Trump, a energia nuclear representa uma oportunidade de fortalecer a segurança energética nacional e diversificar a matriz energética sem depender exclusivamente de combustíveis fósseis ou de fontes intermitentes, como solar e eólica. Essa estratégia também poderia posicionar os Estados Unidos como líder global no desenvolvimento de tecnologias nucleares avançadas, alinhando interesses econômicos com as demandas internacionais por descarbonização.
Abordagem Governamental Possível
Para explorar o potencial da energia nuclear, o governo Trump pode adotar uma abordagem pragmática que inclua:
1.Incentivos financeiros e regulatórios: Facilitar investimentos privados e públicos na reativação de usinas desativadas e no desenvolvimento de tecnologias nucleares avançadas, como os SMRs.
2.Parcerias público-privadas: Atrair o setor privado para financiar e operar projetos nucleares, reduzindo custos e riscos para o governo.
3.Campanhas de conscientização: Promover os benefícios da energia nuclear como uma solução sustentável e de baixo carbono, diminuindo resistências sociais e políticas.
4.Integração estratégica: Posicionar a energia nuclear como parte central de uma política energética mais ampla, garantindo fornecimento estável para setores intensivos em energia, como os data centers.
Conclusão
O segundo mandato de Donald Trump reflete uma continuidade de sua política energética baseada na valorização dos combustíveis fósseis, mas o cenário atual exige adaptações estratégicas. A energia nuclear, antes subestimada, desponta como uma alternativa viável para atender às crescentes demandas de setores críticos, como os data centers, e para diversificar a matriz energética americana. Ao adotar políticas que favoreçam o desenvolvimento nuclear, Trump pode equilibrar interesses econômicos imediatos com pressões globais por descarbonização, consolidando um legado de resiliência e inovação na matriz energética dos Estados Unidos. A energia nuclear, nesse contexto, representa não apenas uma solução técnica, mas também uma oportunidade econômica e estratégica não apenas regional, mas global e cria-se uma oportunidade para o Brasil aproveitar a expansão deste mercado.
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