Rita CortezDivulgação

No mês em que homenageamos as mulheres, é impressionante constatar a persistência de atos discriminatórios, especialmente praticados por advogados que exercem ou aspiram a cargos de representação na advocacia — uma atitude que, surpreendentemente, não se espera.

Recentemente, um candidato à liderança da classe insinuou, em uma plataforma eleitoral, a existência de “favorecimento profissional” pelo fato de mulheres, incluindo uma advogada negra, serem sócias em um mesmo escritório de advocacia e ocuparem, concomitantemente, cargos de representação política em diferentes entidades e instituições jurídicas. O texto sugeria que isso refletia uma “ânsia de poder”, um comentário que, a meu ver, não pode ser ignorado, especialmente em um mês dedicado a celebrar as conquistas das mulheres.

Movimentos e iniciativas que promovem a ascensão de mulheres a esses cargos refletem uma busca legítima por visibilidade e igualdade, representando um esforço consciente para corrigir desequilíbrios históricos.

A repetição desse tipo de discurso no meio jurídico revela traços de misoginia e racismo que precisam ser denunciados e enfrentados sob uma perspectiva antidiscriminatória. É intolerável a ignorância histórica sobre as barreiras que excluem mulheres, especialmente negras, de posições de liderança no meio jurídico, perpetuada por homens que também almejam ocupar papéis de liderança.

Quando um escritório, como o dessas advogadas, assume o compromisso de atuar quase exclusivamente na área sindical, defendendo o livre exercício de uma representação constitucionalmente conferida e os direitos fundamentais dos trabalhadores, essa atuação não apenas evidencia alinhamento com causas sociais, mas também se transmuda em um instrumento de transformação. Isso é especialmente evidente no incentivo ao engajamento político de seus membros em movimentos sociais, dentro e fora da advocacia.

Fomentar esse alinhamento significa abraçar uma visão progressista da advocacia e reconhecer o papel do Direito como instrumento de mudança e renovação social. Significa formar profissionais mais conscientes e comprometidos com questões de interesse público, como determina o Estatuto da Advocacia.


A diversificação, por meio da participação em múltiplas instituições, enriquece o debate jurídico com perspectivas diversas, promove o intercâmbio de experiências práticas na formulação e aplicação de políticas e decisões institucionais, e nos conduz a uma visão mais abrangente e inclusiva do Direito e da Justiça.

Escritórios que promovem diversidade e inclusão, especialmente ao colocar uma advogada negra como sócia à frente de cargos de gestão e ao oferecer apoio para assumir “cargos de poder”, são referenciais importantes contra o racismo estrutural. E contribuem ativamente para aumentar a representatividade feminina em ambientes tradicionalmente masculinos, abrindo caminhos para outras mulheres na área jurídica.

Concluímos que os comentários que criticam a assunção de múltiplos cargos de representação política por advogadas que compartilham o exercício da advocacia no mesmo escritório não apenas falham em reconhecer o mérito profissional dessas mulheres, mas também ignoram o papel fundamental que a advocacia deve desempenhar na defesa da igualdade de gênero e no combate ao racismo, contribuindo para o avanço de pautas sociais importantes.

O engajamento político e institucional dessas advogadas, entre as quais me incluo, deveria ser celebrado, e não criticado, por homens que almejam liderar órgãos e instituições de representação da advocacia.
Rita Cortez é sócia fundadora do AJS|Cortez & Advogados Associados, presidente da Academia Carioca de Direito (ACD) e Conselheira Federal da OAB