Vivemos em uma sociedade que valoriza a produtividade acima de tudo. Desde cedo, somos incentivados a preencher cada minuto do nosso dia com tarefas, compromissos, aula disso, aula daquilo. Pouco se fala sobre a importância de não fazer nada por um tempo. O cérebro precisa de pausas para se reorganizar, processar aprendizados e recarregar as energias. As férias são uma excelente oportunidade para colocar isso em prática.
O ócio quando bem vivido é pode ser positivo. O ócio também tem o seu valor. Por ser um espaço livre de obrigações, ele tem o poder de estimular a criatividade. Quando não há uma atividade pronta esperando, você fica mais livre para fazer atividades livres de obrigação, só por prazer.
Muitas vezes o ócio é confundido com preguiça, mas ele pode ser uma oportunidade de reconexão com si mesmo. Quando estamos sem fazer nada de forma intencional, permitimos que o cérebro processe informações mais livremente, organize memórias, elabore ideias e traga insights.
O ócio pode funcionar como um empurrão interno que nos leva a explorar interesses diferentes ou a desenvolver novas habilidades. A criatividade, por exemplo, costuma florescer quando damos espaço ao tédio, ao invés de sufocá-lo com distrações constantes. O que fazer com tanto tempo livre? Se conecte com o ambiente ao seu redor, faça um passeio ao ar livre, leia um livro, tome sol na praia, viaje para um lugar onde possa ter contato com a natureza, fortaleça os seus vínculos afetivos, crie memórias com as pessoas que você ama, faça alguma coisa pela primeira vez, busque um hobbie em que você não precise ser bom ou fazer disso mais uma obrigação.
Na nossa cultura, ainda existe uma pressão para estar sempre ocupado, como se o valor de uma pessoa estivesse diretamente ligado ao quanto ela produz. Essa mentalidade é prejudicial. Devemos aprender a respeitar os limites do nosso cérebro, assim como respeitamos os limites do corpo quando sentimos fome ou cansaço físico. Quando estamos exaustos e sobrecarregados, a criatividade não tem como florescer. A mente precisa de pausas para ser capaz de produzir algo novo e significativo.
O descanso é muito importante para a saúde mental. Dormir bem, fazer pausa ao longo do dia, fazer atividades leves e até mesmo permitir-se momentos para não fazer nada, são práticas fundamentais para a manutenção do bem-estar. Quando negligenciamos o descanso, aumentamos o risco de desenvolver ansiedade, depressão e até problemas cognitivos, como perda de memória e dificuldade de concentração.
Como psiquiatra, vejo cada vez mais pacientes com sintomas de ansiedade e estresse. Muitos deles estão sobrecarregados com as demandas de trabalho, tarefas domésticas, as relações. O ócio é uma oportunidade de desacelerar e de lembrar que o descanso é fundamental para a saúde mental.
A minha dica é buscar manter um equilíbrio saudável em sua vida. Um cérebro descansado é um cérebro mais saudável, mais criativo e mais preparado para lidar com os desafios da vida. Permita-se parar! Sua saúde mental agradece.
Antônio Geraldo da Silva é presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria
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